ARTIGO – O PARADOXO DA DEMOCRACIA E OS RISCOS DO FASCISMO

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O Paradoxo da Democracia e os Riscos do Fascismo

Pedro E. Almeida da Silva*

A democracia, segundo frase atribuída a Winston Churchill, é a pior forma de governo, à exceção das demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história. Um dos maiores paradoxos do sistema democrático é permitir que propostas antidemocráticas sejam eleitas. É nesse contexto que figuras como Donald Trump, Javier Milei e outros, agora inelegíveis, ascenderam ao poder, utilizando discursos inflamados, de viés fascista. Esses líderes exploram o descontentamento popular, canalizando frustrações em narrativas polarizadoras, criando inimigos imaginários, enquanto deslegitimam as bases do próprio sistema que os elegeu.

Quando derrotados nas urnas, adotam uma retórica perigosa, acusando fraudes sem evidências concretas e incitando atos golpistas que colocam em risco a estabilidade institucional. Ou seja, o sistema é honesto quando são eleitos, mas não quando são derrotados. Trump, exemplo desta contradição, retorna ao cenário político em busca de mais poder, é um exemplo emblemático de como tais lideranças podem comprometer a democracia. Responsável por inflamar multidões durante a invasão ao Capitólio, evento que resultou na morte de cinco pessoas, deveria enfrentar as consequências legais de suas ações. No entanto, sua permanência no debate público evidencia a dificuldade em conter líderes que promovem o enfraquecimento das instituições democráticas.

Essa mesma dinâmica pode ser observada no Brasil, onde atos golpistas contra a democracia também foram incentivados por discursos irresponsáveis e, por vezes, criminosos. No caso brasileiro, a responsabilização não pode se limitar aos executores diretos desses atos. Embora seja necessário punir aqueles que vandalizaram o patrimônio nacional, a verdadeira eficácia está na aplicação de punições exemplares aos líderes e financiadores, quase todos identificados, que planejaram e incentivaram essas ações.

A história demonstra que, quando tais indivíduos permanecem impunes, eles não apenas tentam retornar ao poder, mas o fazem de forma ainda mais agressiva, ameaçando as estruturas democráticas de maneira mais severa. Defender a democracia, mesmo com suas limitações e contradições, é uma tarefa essencial.

É fundamental investir na educação política da população, promovendo a consciência crítica e a valorização do debate público pautado nos fatos. O combate à desinformação e às narrativas de ódio deve ser uma prioridade em qualquer sociedade que aspire à estabilidade democrática.

O fascismo e o golpismo, muitas vezes mascarados por discursos de renovação, representam ameaças reais que não podem ser subestimadas. A democracia é resiliente, mas vulnerável. Sua preservação requer ações concretas para enfrentar práticas antidemocráticas, independentemente de sua origem. Isso inclui não apenas o fortalecimento das instituições e a aplicação rigorosa da lei, mas também o envolvimento ativo da sociedade civil na promoção do debate crítico e na rejeição de narrativas de ódio e desinformação.

*Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande – FURG