AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO – PARTE 9

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AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO

De forma pioneira o site do Pelotas Treze Horas, começou a publicar no dia 30.11.24, um roteiro cinematográfico sobre o pelotense ilustre, João Simões Lopes Neto. De autoria dos escritores Lourenço Cazarré e seu filho, Érico Cazarré, esta é a primeira vez que um espaço pelotense e quem sabe do RS está publicando, semanalmente, um roteiro cinematográfico.

Ele está sempre aos sábados aqui no site – www.pelotas13horas.com.br – e se estenderá por mais 1 capítulo. Confira a IX Parte:

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PARTE 9

Cena 53 – A primeira grande obra impressa

Surge na animação uma imagem do livro “Negrinho do pastoreio”.

Loc.

A primeira grande obra de Simões Lopes Neto a ser publicada foi a lenda “Negrinho do pastoreio”, que apareceu em 1906 no Correio Mercantil.

Loc 2

A lenda conta a história de um menino escravizado em uma estância. Depois de disputar e perder uma carreira a cavalo, ele é espancado até a morte pelo patrão. Mas, protegido de Nossa Senhora, ressurge depois. E daí em diante passa a ser uma entidade mística a que recorrem todos os que perderam alguma coisa.

Surge na tela a frase “Lendo-a, tive a impressão de a estar ouvindo contada, em tom lento, por uma dessa velhinhas que são as conservadoras de muito primor da poesia popular” com a indicação de seu ator “Coelho Neto”. Após o tempo de leitura da frase surge uma ilustração do Negrinho com Nossa Senhora e segue a locução.

Loc.

A lenda do Negrinho foi escrita por vários outros autores antes de Simões Lopes Neto.

Loc2

Mas a versão do contista pelotense se destacou pela introdução da dimensão espiritual: a presença de Nossa Senhora.

Cena 54 – A origem dos contos

A animação passa a mostrar imagens do Rio Grande. O escritor aparece sentado, com um livro nas mãos, contemplando o pampa. Seguem-se imagens de gaúchos andando a cavalo.

Loc.

Para os estudiosos, o livro que inspirou João a escrever seus grandes contos foi Recordações gaúchas, de Luiz Araújo Filho.

Loc2

O escritor teria lido em 1905 essa novela narra uma viagem de cavaleiros pelo Rio Grande do Sul. O principal acontecimento do livro é a disputa de uma grande carreira, na qual um homem aposta sua mulher, e a perde.

Cena 55 – Cancioneiro guasca

Animação mostra o ano e apresenta imagens da primeira edição do Cancioneiro Guasca.

Loc.

Em 1910 Simões lançou o Cancioneiro guasca, obra destinada a preservar cantigas e poemas tradicionais do Estado.

Loc 2

No Cancioneiro o escritor recolheu quadras, poemetos, poesias, danças, trovas e desafios.

A animação mostra imagens da fundação da Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

Loc.

Em 1910, foi criada a Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

Loc 2

João Simões Lopes Neto foi um de seus fundadores.

Cena 56 – 1911, um ano movimentado

Seguem-se imagens em animação das diversas publicações do autor citadas na locução.

Loc.

Em 1911, o escritor começou a esboçar dois de seus livros: Causos do Romualdo e Contos gauchescos.

Loc 2

O conto “O gringo das linguiças”, dos Causos, saiu na revista da Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

O conto “Duelo de Farrapos” apareceu em setembro no Diário Popular.

O escritor entregou à revista da Academia de Letras o conto “O negro Bonifácio”.

Cena 57 – Revista do Centenário

Entram em cena imagens da Revista do Centenário, imagens da comemoração da fundação da cidade e cenas da pujança de Pelotas na primeira década do século 20.

Loc.

A fama de azarado de João Simões Lopes Neto acabou por esconder seus muitos empreendimentos valiosos. Foi o caso da Revista do Centenário de Pelotas, da qual ele foi o diretor-proprietário e único redator.

Loc 2

Essa publicação visava registrar as comemorações dos cem anos de fundação de Pelotas, que ocorreriam em 1912.

O escritor não queria a data não fosse marcada só por festas. Queria fazer um registro histórico do evento.

Loc

A Revista do Centenário traçou um retrato detalhado de Pelotas na primeira década do Século 20. Os anúncios publicitários dão uma ideia da pujança do município. Era impressionante a quantidade de indústrias de fumo, cervejas e remédios.

Loc 2

Um número especial da Revista não foi editado porque seu autor estava passando por “dificuldades artísticas” e enfrentado “moléstia grave”. No total, a publicação teve sete edições. A última englobou os números sete e oito.

Cena 58 – Contos gauchescos

Surge na animação o letreiro com o ano “1912”. E depois aparecem as frases

“Mas não apareceu ninguém para lhe dizer que isto seria um dia a sua glória.”

“A saúde começou a faltar-lhe quando eram maiores suas aperturas de dinheiro, obrigando-o a trabalhar na melancólica situação de “rato de redação”.

Essas frases aparecem na tela com a indicação do seu autor: “Carlos Reverbel”

Após o tempo de leitura das frases a locução é retomada com imagens dos textos de Contos gauchescos.

Loc.

1912 foi o ano da publicação de Contos gauchescos.

Loc 2

Entre 31 de março e 5 de maio daquele ano foram divulgados onze contos no Diário Popular. O livro foi lançado em setembro.

Cena 59 – Redator remunerado

A animação segue com imagens de Simões Lopes Neto trabalhando em uma pequena redação do jornal. Ele também aparece dando aulas em uma saleta da Academia de Comércio.

Loc.

Em 1913, ano em que completaria 48 anos, Simões, começou a trabalhar como redator remunerado de A Opinião Pública.

Loc 2

Durante décadas ele fora colaborador desinteressado da imprensa, mas na época passava por dificuldades.  Suas fontes de renda eram as aulas mal pagas de gramática e francês na Academia de Comércio e os trabalhos eventuais como despachante.

A animação mostra imagens das publicações citadas na locução a seguir.

Loc.

Em 1913, o escritor publicou outros dois causos do Romualdo e um conto – “O Menininho do Presépio” – que faria parte de um projetado segundo volume dos Contos gauchescos.

Loc 2

De junho a agosto de 1913, João Simões Lopes Neto publicou, em A Opinião Pública, 17 textos que chamou de “Inquéritos em contraste”. São reportagens que tratam da vida de pessoas que viviam nos bairros pobres e nos cortiços.

Loc

O fato literário mais importante de 1913 foi sem dúvida a publicação de Lendas do Sul.

Loc 2

A grande novidade do livro era a excepcional “A Salamanca do Jarau” porque as lendas “Negrinho do Pastoreio” e “A M’Boitatá” já haviam sido divulgadas.

Cena 60 – Jornalista

A animação mostra então imagens do jornal Correio Mercantil e de Simões atuando na redação do jornal.

Loc.

Em março de 1914, Simões passou a dirigir o Correio Mercantil.

Loc 2

Ao se apresentar aos leitores, escreveu: “Há de o homem atual ser deliberadamente tolerante e calmo e não se deixará empolgar nem pela ilusão do medo, nem pela do arrojo, há de encarar os acontecimentos e a ação dos homens públicos, comentando-os a todos sob a égide da forte imparcialidade”.

Surgem na animação letreiros com a frase citada na locução e a indicação da autoria de Simões Lopes Neto. Na sequência temos imagens da publicação dos Casos do Romualdo no Correio Mercantil. Depois uma imagem de Simões saindo da redação do jornal.

Loc

Segundo o escritor, o exercício do jornalismo exigia muito dos seus profissionais.

Loc 2 (Voz de Simões)

“Finura, golpe de vista, amor à luta, respeito a si próprio, desconfiança dos homens, o dom da comoção, respeito às opiniões alheias, desdém pelos prejuízos, fé na vida, tolerância e submissão serena ao labor”.

Loc.

Entre primeiro de junho e 21 de julho de 1914, Simões Lopes Neto publicou os 27 capítulos de Casos do Romualdo no Correio Mercantil.

Loc 2

Ao longo de 1915, o Correio Mercantil apoiou a candidatura ao Senado de Ramiro Barcelos, que concorria contra o Marechal Hermes da Fonseca.

Hermes da Fonseca, ex-presidente da República, era o candidato indicado pelo todo poderoso Senador Pinheiro Machado.

O Marechal acabou vencendo a eleição em 2 de agosto. Em 17 de novembro Simões deixou a direção da redação.

Cena 61 – O ano da morte do Autor

A animação segue com imagens mostrando novamente Simões na redação de A Opinião Pública e imagens de cotidiano de Pelotas nos anos 1910. Ele se levanta e sai abatido do local. Imagens de Simões em casa repousando com Dona Velha ao seu lado.

Loc.

Em janeiro de 1916, Simões Lopes Neto retomou seu trabalho jornalístico em A Opinião Pública. Começou a publicar uma série de crônicas sob o título “Temas gastos”.

Loc 2

Na primeira delas, desalentado, escreveu: “Figuras e coisas, gestos e brados, lances e quietudes, máximos e mínimos, céus e abismos; pedras, águas, homens, plumas, ramos… tudo, ó variegada colcha de retalhos, tudo justificará o teu título… oh, coluna que começas por redizer aquilo que todos sabem”.

Loc

No dia 12 de junho, Simões trabalhou normalmente na redação do jornal. Mas disse aos companheiros que não estava se sentindo bem. Acreditava que tinha algum problema no fígado, que tratava com as ervas medicinais que colocava no seu chimarrão diário.

Loc 2

João Simões Lopes Neto não apareceu para trabalhar no dia seguinte.

O maior escritor regionalista do Brasil e um dos seus maiores contistas faleceu de perfuração de úlcera duodenal às 15 horas e 15 minutos de 14 de junho de 1916. Estava com 51 anos.

Cena 62 – Necrológio

Imagens sucessivas de Simões com trechos dos textos citados sobrepostos à imagem.

Loc.

No seu melhor necrológio, Simões foi saudado como um estudioso, um pesquisador infatigável dotado de fino espírito de observação, entre cujas grandes obras se destacavam um trabalho didático destinado à instrução primária, escrito em ortografia fonética, e um estudo sobre piscicultura, talvez o de maior fôlego do ilustrado rio-grandense.

Loc2

Também na hora de sua morte Simões foi azarado. Os que escreveram sobre ele nos jornais por ocasião do seu falecimento se enganaram redondamente. Houve quem dissesse que ele havia estudado Direito e Engenharia.

Cena 63 – Um homem derrotado

Segue a sequência anterior de imagens agora com os letreiros apresentando a frase a seguir e autoria de Carlos Revebel.

Loc.

O biógrafo Carlos Reverbel escreveu que o escritor, quando faleceu, era um homem derrotado que nem mesmo os íntimos levavam a sério.

Loc 2

“Com os sonhos extraviados, encanecido, gasto, arruinado em negócios, despido dos cargos que exercera nas principais entidades comunitárias, ao lado das figuras mais representativas da cidade, o nosso querido Capitão ficara reduzido a ter de morar na modesta casa de uma cunhada doceira e a ter de trabalhar, como redator remunerado, num órgão da imprensa local, o que corresponde a uma espécie de atestado oficioso de pobreza, traduzindo um estado de extrema necessidade”.

Imagens da Casa de Simões vazia, Dona velha junta papéis e os coloca em um velho baú de madeira. Na cena aparece uma pequena biblioteca e os livros vão sumindo das estantes.

Loc.

No fim da vida, o escritor não guardava ressentimentos.

Loc 2

Nos seus longos anos de viuvez, Dona Velha sempre responsabilizou os trabalhos literários e jornalísticos de seu esposo pela penúria da família. Depois da morte dele, tentou vender seu acervo, mas não conseguiu. Aos poucos, a biblioteca se desfez e não se pode saber o que lia João Simões Lopes Neto.

A frase de dona velha entra em forma e letreiros com a indicação de autoria.

Loc

Dona Velha dizia que seu marido lhe deixou um legado de boas lembranças, mas também de amarguras e ressentimentos.

Cena 64 – Livros publicados em vida

A animação agora tem uma mudança de tom. Inicia-se uma música mais agitada e surgem imagens de diversos livros publicados de Simões. Surge a capa de Contos gauchescos e a data 1912. Depois Lendas do Sul e a data 1913 logo em seguida Cancioneiro guasca e a data 1910.

Loc.

Uma parte mínima do vasto trabalho intelectual de João Simões Lopes Neto foi impressa enquanto ele vivia.

As duas obras que o consagraram – Contos gauchescos, Lendas do Sul – saíram em 1912 e 1913.

Loc 2

Essas duas obras só foram impressas porque seu primeiro livro, Cancioneiro guasca, teve boa vendagem.

Agora são apresentadas imagens da Livraria Universal ou uma foto de Guilherme Echenique.

Loc.

Os três livros foram publicados pela Livraria Universal, a principal editora do Estado por duas décadas.

O trecho seguinte de locução aparece na tela na forma de letreiros com a indicação da autoria de Sílvio Echenique.

Loc 2.

Meu pai gostava de escrever e era grande apreciador da literatura gauchesca…E era um amigo do ´Seu Joca`, que a ele confiava manuscritos originais, desordenados de arrepiar os cabelos…Existindo, pois, entre ambos essa afinidade, a do culto do regionalismo, um possuindo a bossa do escritor e o outro, a tipografia, meu pai fez esta funcionar sem miras de lucro.

Surgem aqui imagens das publicações das peças teatrais e das conferências Cívicas.

Loc.

Também foram publicadas algumas de suas peças teatrais – Os Bacharéis (só as partituras), O boato, Viúva Pitorra e Valsa branca.

Loc 2

A Biblioteca Pública Pelotense publicou suas Conferências Cívicas.

Surge na animação uma imagem do Pampa. Ao longe vemos o gaúcho Blau Nunes. São retomadas as imagens da sequência inicial. A chaleira no fogo, o campo coberto de geada e a partir daí seguem imagens das paisagens do Rio Grande do Sul apresentadas no texto.

Loc.

Nessas conferências ele expõe seu ideário patriótico e nacionalista, em parte usado na abertura dos Contos Gauchescos. É o mais famoso monólogo da literatura gaúcha, a fala de Blau Nunes.

Loc 2

“Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da Lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da coxilha de Santana; molhei as mãos no soberbo Uruguai; tive o estremecimento de medo nas ásperas penedias do Caverá; colhi malmequeres na planície de Saicã; oscilei entre as águas do Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla; pousei em São Gabriel, a forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou; e, arrastado no turbilhão de máquinas possantes, corri pelas paragens magníficas de Tupanciretã, o doce nome que nos lábios ingênuos dos caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus”.

Imagens e músicas campeiras entram entre os dois blocos de narração.

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Segue sábado que vêm…