ARTIGO – LIÇÕES DE ÉTICA E DE RESPEITO HUMANO

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LIÇÕES DE ÉTICA E DE RESPEITO HUMANO

Por Clayton Rocha (de Milão – 2005)

Bonnie carrega consigo um histórico de tragédias pessoais, um ritmo alucinante de trabalho, jornalismo feito com risco de morte, comportamento ético impecável, paciência infinita com as lideranças mundiais, homens e mulheres cheios de poder que desfilaram diante da credibilidade de seu microfone, e um prestígio internacional  que se ampara numa única palavra: ética.  Ela é uma mulher extraordinária e tem uma notável visão de mundo. Andou por toda parte, do misticismo inesquecível da pequenina República do Butão, na Ásia, aos grandes centros populacionais do planeta. Onde quer que se apresente, o nome Bonnie Anderson impõe respeito e seriedade profissional. Jamais esquecerei nossa despedida, no Salgado Filho, em Porto Alegre: ela entrou no avião fazendo o clássico sinal de despedida dos Papas. Era a homenagem que me prestava. Conhecera João Paulo II de perto, viajara com ele, emocionara-se com o Santo Padre em Havana, a sua terra natal.

Entre Pelotas e Porto Alegre nem mesmo notamos a passagem das duas horas e meia de viagem. A conversa foi tão intensa e tão rica, que chegou a projetar a  possível eleição do atual líder republicano no Senado à Casa Branca, os sonhos presidenciais seguintes de Hillary Clinton e Barack Obama,  tidos como sonhos viáveis, e até mesmo a chance italiana futura através do Cardeal Dioniggi Tettamanzi, aqui de Milão, de alcançar o Trono de São Pedro. Ela sabe que Bento XVI é um gigante do pensamento, e aposta no sucesso do Pontífice eleito em 19 de abril. Respeita muito a Igreja da Itália, a Cúria romana e o poder do Vaticano, e sobretudo a qualificação do Cardeal Arcebispo de Milão, na medida em que Tettamanzi é uma autoridade no campo da bioética. Se o futuro pode apontar aqui para Milão, isto é uma questão de lógica, e resulta de uma análise fria e criteriosa. Mas se o futuro da Igreja apontar para a África, o fato alcançará repercussões extraordinárias. E aí poderá aparecer o nome de Francis Arinze,  o Cardeal negro da Nigéria.

Disputamos – em conversa de estrada – o domínio da palavra. Cada qual queria falar mais. E chegamos ao restaurante Barranco, em Porto Alegre, satisfeitos e fortalecidos neste relacionamento novo que surge por deferência da Virgínia Fetter. A ex-Vice-Presidente da CNN Internacional  e jornalista responsável pela criação da CNN em espanhol, deixou por aqui os sinais luminosos de seu talento. Combinamos um encontro em sua ilha, próxima a San Juan, em Porto Rico. Trocamos cartões mas sobretudo afetos, sintonias, visões idênticas do mundo e das pessoas que o movem. E buscamos, ambos, em algumas horas de convívio elevado e construtivo, compreender a raça humana, sempre tão imprevisível em suas reações.

Concluímos, lembrando Dostoievski, que não é o cérebro que importa mais, mas sim o que o orienta:  o caráter, o coração, a generosidade, as ideias progressivas. Postos à disposição do mundo, e com esse direcionamento, devemos emprestar-nos uns aos outros; dar-nos, no entanto, e em acordo com a máxima de Montaigne, só a nós mesmos.

Milão – 2005

Bonnie M. Anderson – Repórter de notícias experiente. Anderson começou a cobrir a América Latina e a comunidade hispânica de Miami para o El Miami Herald em Miami. Depois de um ano reportando para a WPLG-TV em Miami, a afiliada da ABC, ela trabalhou para a NBC NEWS como uma das duas correspondentes da rede na América Latina. Mais tarde, ela serviu como correspondente da rede postada em Beirute e Roma, antes de ingressar no The Miami News como colunista. Pouco antes de ingressar na CNN em 1992, Anderson serviu por quatro anos na WTVJ em Miami. Seu primeiro cargo na CNN foi um correspondente nacional, onde cobriu as principais notícias de última hora, como o o terremoto de Los Angeles em 1994, a visita do Papa João Paulo II a Denver em 1995, o furacão Andrew no sul da Flórida em 1992, dentre outras tantas coberturas de cunho internacional.  Anderson foi uma das primeiras mulheres correspondentes de guerra na indústria e fez reportagens em mais de 100 países. Durante seu tempo com a NBC, e CNN ela foi baleada – e ferida enquanto reportava.

Anderson serviu como âncora e correspondente de guerra internacional antes de chegar ao cargo de editor-chefe da CNN em Espanhol , a rede de notícias 24 horas em espanhol da CNN .