ARTIGO – HORA DE UNIÃO

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HORA DA UNIÃO

Neiff Satte Alam – Equipe Treze Horas

“O professor deverá ser um generalista dentro de sua especialidade e um especialista para a compreensão das generalidades, por isto um profissional único. Mais do que repassar informações terá que ser o promotor da construção de competências e do próprio conhecimento de seus alunos e não um repassador de meras informações que, sem que lhes dê significado, nada valem.” Partindo desta premissa, faço minha manifestação:

Atento às movimentações na área da Educação Básica em Pelotas, por conta da grave crise sanitária imposta pela pandemia da COVID-19, que atingiu intensamente o Sistema Municipal de Ensino, assisti uma Audiência Pública da Câmara de Vereadores, totalmente online, que pretendia ouvir os administradores públicos da área de Educação-SMED (Secretaria Municipal de Educação e Desporto – Pelotas),ouvi atentamente pessoas manifestarem preocupação com o andamento das medidas oficiais para mitigar os efeitos de uma quarentena mundial, inclusive fazendo críticas; querendo ampliar o diálogo entre a comunidade escolar e a Secretaria Municipal de Educação através de uma Comissão; sugerirem soluções.

Havia, entendia eu, uma vontade implícita de harmonizar as relações entre todos os interessados. Pensei em manifestar minhas ideias a respeito do tema, mas, com o início das manifestações, percebi uma tendência a um conflito entre as partes, que modificou toda a trajetória imaginada, talvez, pelos promotores do evento. Preferi, então ser apenas um ouvinte e me manifestar por escrito, que faço agora.

O foco principal se perdeu, pois em nenhum momento foram apresentadas ideias concretas sobre a necessária mudança dos caminhos oficialmente propostos, nem a análise de uma necessária premissa de que as deficiências, que há décadas dominam a gestão da Educação Básica Pública, inviabilizam qualquer tentativa de utilização de um Ensino Remoto:
– Não há infraestrutura adequada à proposta pedagógica oficial nas Escolas;
– Os Professores não tiveram uma formação para desenvolverem tal atividade;
– Os alunos, em sua maioria, não têm como acompanhar tarefas desta natureza; as famílias, se não todas, quase todas, não dispõem de tecnologia adequada – Internet, computadores, celulares, que possa viabilizar tal sistema.

Nesta Audiência Pública, retirando as agressões e manifestações fora do contexto, que em nada contribuíram para o oportuno evento, restou uma importante lição: “quando debatemos, temos que atacar as ideias, os argumentos, mas jamais as pessoas”.
Argumentos que valem a pena serem explicitados:
– Há necessidade de ampliar o diálogo entre Professores e Administração da SMED, promovendo um contrato de ação pedagógica visando alcançar uma solução minimamente viável;
– A situação atual de ensino/aprendizagem, praticamente inviabilizaria o cumprimento de um mínimo de rendimento, pois está baseada tão somente em entrega remota e precária de conteúdo (manifestada por todos os participantes da Audiência Pública). Ver a premissa no primeiro parágrafo;
– As condições sócio/econômicas da maioria dos alunos exige entrega de alimento, da merenda escolar, a todos. Sabe-se que um número expressivo de alunos não dispõe das mínimas condições alimentares com um natural comprometimento da saúde destas crianças;
– Paralelamente a tudo isto, um trabalho de formação continuada dos Professores da Rede em relação ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, com a contribuição de Universidades, Institutos Educacionais e voluntários da comunidade para a realização desta tarefa, simultaneamente a busca de soluções emergenciais, de modo a reduzirem as perdas de aprendizado dos alunos, no presente e no futuro;
– Não há condições de desenvolverem-se atividades desta natureza na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Outras alternativas deverão ser buscadas.  Claro que, com o aprofundamento destes argumentos, surgirão outros, pois devemos lembrar que o número de Professores é muito grande e, mesmo que sejam escolhidos alguns para formar uma comissão, ainda assim o número deverá ser grande. Finalmente, é o momento de todos trabalharem uns COM os outros e não uns CONTRA os outros. Todos os esforços no mesmo sentido.