ARTIGO – DORIA E O MARIDO DA ANTÍGONA

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Doria e o marido de Antígona 
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Henrique Pires*
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Brizola gostava de citar  uma expressão clássica ao analisar certos embates: ‘Vitória de Pirro’, repetia ele, lembrando o nome do General Macedônio, marido de Antígona, que lutava contra Roma. Ganhava batalhas, mas  nelas perdia o exército.
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Lembrei a expressão ao ler os números e atentar para o possível custo politico da vitória de João Doria na convenção do PSDB, inicialmente ao checar dados referentes aos vereadores tucanos que votaram. Me pareceram extremamente  significativos, pois   permitem ter a noção da distribuição da preferencia política  manifestada, considerando o mapa do território nacional e exatamente entre aqueles líderes partidários eleitos  e que recebem cotidianamente as mais fortes pressões do eleitorado;os que,em ultima análise, sairão às ruas pedindo votos quando a campanha presidencial começar.
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Vejamos: do “Oiapoque ao Chui” votaram mais de 2.858 vereadores do PSDB. Destes, 1491 escolheram Eduardo Leite; 1367 optaram por Doria. Perder exatamente na base política do partido,sinaliza – em amarelo forte – o que também  em tonalidade mais branda se vê entre prefeitos e vices que foram às urnas tucanas: Dória, o marido de Bia, conquistou 393 votos, contra 369 direcionados a Eduardo Leite. Bastariam esses números  para fazer piscar todas as luzes dos painéis do PSDB, que colocará – numa eleição extremamente polarizada – um candidato que aparentemente não empolgou suas bases, não obstante sua robusta estrutura política e financeira. De Mário Covas ouvi certa vez: “uma coisa é um candidato. Outra coisa, uma candidatura.”
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Essa só sairá da convenção oficial,que será lá adiante, em agosto de 2022, e Doria terá, sim ,tempo pra construir uma candidatura empolgante, competitiva, que entusiasme, que motive, que tire o eleitor de casa num dia que seja de chuva ou de sol.
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Até aqui, a prévia é apenas uma batalha. Doria venceu sem outros mortos além do aplicativo da Ufrgs, mas claramente seu exército resultou com feridas, que só o tempo nos dirá se serão superáveis…
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*Henrique Pires – Jornalista