Crise da informação: a solução está na Escola!
Neiff Satte Alam*
Os manuscritos utilizaram, através dos tempos, paredes de cavernas, tábuas de madeira, pequenos blocos de barro cozido, pergaminhos, paredes de monumentos, folhas soltas de papel, finalmente material impresso chegando aos livros, jornais revistas atuais … e a Internet !
Em todos os tempos, estas tecnologias tiveram como propósito transferir informações. Entretanto foram sempre objeto de controle para que estas informações sempre tivessem um limite de alcance na população. Muitos acervos destes materiais foram destruídos ou escondidos da população, pois já havia a ideia de que poucos poderiam ter acesso as informações/novas ideias/conhecimentos expressados pelos autores destas escritas.
Percebe-se, então, que a veiculação de informações sempre foi controlada para que o conhecimento resultante dos diferentes significados dados a estas informações não chegassem a população, afastando-a do poder que o conhecimento pode dar as pessoas quando se apropriam dele.
Considerando que a informação isolada não tem significado, já o conhecimento quando processado e avaliado produz atitudes, valores e juízo moral, isto é, transforma-se em saber. Entende-se que a informação deve utilizar conhecimentos prévios para que seja absorvida e que passe a ter sentido. Esta sequência informação/conhecimento/informação é a única forma de termos um horizonte de evolução que fomente uma humanização crescente e ética.
Com as novas tecnologias de informação, que estão rompendo as barreiras físicas impostas por fronteiras geográficas entre os povos do Planeta, começamos a fixar a ideia de mundialização do conhecimento, uma ruptura drástica provocada por projetos de censura de opiniões/ideias/informações e, por consequência, ao conhecimento, começando a atingir globalmente estas novas tecnologias em razão dos conteúdos veiculados.
A rapidez com que qualquer informação circula pelo mundo e o número fantástico de pessoas atingidas por estas informações tem causado conflitos entre os que antes dominavam a difusão destas e os milhões de usuários que em segundos, simultaneamente e em qualquer ponto do Planeta acessam-nas e as transformam em conhecimento segundo suas bases culturais ou simplesmente as utilizam sem muitas vezes analisar os conteúdos disseminados.
Este conflito não será resolvido com censura destes novos meios de comunicação e suas plataformas. A História é rica em exemplos que mostram que o homem sempre superou estas crises. Queimar as tábuas com escritas milenares na China, Destruir a Biblioteca de Alexandria, esconder os manuscritos em mosteiros, principalmente na época em que a Inquisição Religiosa só permitia aos “eleitos” terem acesso ao conhecimento humano registrado em pergaminhos, códices ou livros, somente para citar os maiores eventos. Ao contrário, temos que liberar a manifestação de todas as pessoas, por todos os meios disponíveis, em todos os idiomas, independentemente da informação que tentem repassar, pois somente tendo o conhecimento destes pensamentos, por mais absurdos que possam parecer.
É exatamente neste momento que precisamos utilizar a poderosa arma chamada Escola. É nas Escolas que precisamos resolver estas questões através de uma pedagogia que preserve a autonomia do aprendiz, ensinando-o a desenvolver um pensamento não linear, onde se busca uma tarefa individual de um encontro com uma forma de pensar em rede, não em linha e principalmente livre de imposições ideológicas e/ou políticas dos Professores e aprendendo a dar significado as informações e, por consequência, construindo seu conhecimento com liberdade e, reforçando, autônomo; também na Escola, com auxílio dos Professores, desenvolver uma capacidade de refletir sobre ações passadas, sobre ações do presente e ações futuras, contextualizando informações e conhecimentos estruturando um saber sólido; dentro de uma visão de complexidade, saber interligar conhecimentos sem prejudicar a essência destes e formar um conhecimento mais amplo que, respeitando cada conhecimento interligado, aprender a importância da democratização destes conhecimentos se discriminar, mas conviver com as diferenças ideológicas/culturais.
Embora a Escola demore a interagir com o novo, é o ambiente onde esta revolução de pensamento deverá ocorrer. O próprio Professor deverá se reinventar e utilizar estas novas tecnologias a seu favor, transformar a Escola em uma área de saber e de trabalhar estas informações /planetárias em conhecimento. Isto vem antes de se escolher o que ensinar, pois a disciplinarização ainda vigente é que deve ser tratada como obstáculo, pois pode ser um empecilho a um conhecimento em que todas as informações estão interconectadas e cada parte tem sua importância para o conhecimento/entendimento do todo.
Nunca é demais citar a manifestação de Umberto Eco em discurso proferido na Universidade de Turim: “…as redes sociais dão direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes destas plataformas, a penas falavam nos bares, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade…” Esta manifestação exprime com clareza que há um processo de seleção natural entre os imbecis e os não imbecis. Deve ser na Escola que esta luta se defina em prol dos “não imbecis”, pois armando nossos alunos com conhecimentos sólidos teremos uma melhor utilização da informação.
Deve-se ressaltar que o que oprime o aluno é não entender que uma pedagogia com autonomia educando/educador é que nos levará a uma capacidade de bem utilizar as novas tecnologias de informação e comunicação e principalmente nos separar dos que se utilizam da Internet para disseminar informações falsas e/ou sem sentido daqueles que usam a rede para construção de conhecimento, mas o que oprime é não saber o que fazer com este fantástico volume de informações.
Para resolver esta crise a solução é a Escola!
*Biólogo, Professor de Biologia e Especialista em Informática na Educação. Participa do Treze Horas desde a sua criação, em 1978.