ARTIGO – A ENERGIA DIFERENCIADA DOS NARRADORES DE FUTEBOL

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ROBERTO BRAUNNER NARRANDO F-1 NA EUROPA. Foto: Arquivo Clayton Rocha

A ENERGIA DIFERENCIADA DOS NARRADORES DE FUTEBOL

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Se felicidade é ter o que fazer, como dizia Aristóteles, vamos tratar de executar projetos em favor do rádio do RS.
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Onde estão esses talentos escondidos, ainda anônimos, espalhados por endereços nossos, de Pelotas e do Sul do Estado? Quem sabe, um concurso de narradores, na sugestão do jornalista Hélio Freitag?
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Pois confesso aqui, caro leitor, que apreciei a ideia, tendo lembrado na hora desse inesquecível Carlos Roberto de Freitas Braunner, aquele menino que desejava ser narrador de futebol e que marcou época em Pelotas e em Porto Alegre, além de ter atuado – e brilhantemente – nos 16 circuitos da Fórmula-1, acompanhando Ayrton Senna da Silva em suas gloriosas jornadas.
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Roberto Braunner, esse o seu nome de rádio, atuou na Gaúcha, tendo começado com Ruy Carlos Ostermann, que o levou para a Copa do Mundo da Argentina de 1978. E narrou futebol no Rio Grande do Sul, e atuou por outras emissoras, e qualificou o rádio sempre movido pela sua seriedade profissional.
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No já distante ano de 1973, em Luanda, Angola, na escala da nossa viagem para Johanesburgo, o Pedro Carneiro Pereira ouviu a voz do Braunner numa pequena gravadora e apreciou o ritmo e o padrão do narrador. Ele pretendia receber o jovem talento pelotense em questão de semanas, em Porto Alegre, mas o destino encarregou-se de dizer não.
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Em maio de 1973, numa viagem para Bagé, sobrevivi a um grave acidente automobilístico que alterou meu ritmo de vida e de trabalho. E em 21 de outubro daquele mesmo ano foi a vez do Pedrinho, cuja morte na tragédia do Autódromo de Tarumã deixou o Rio Grande do Sul em estado de choque. Por conta disso, a voz de Roberto Braunner acabaria sendo ouvida em Pelotas, durante um jantar oferecido ao amigo Ruy Carlos Ostermann, que a aprovaria de imediato. Pronto, o seu estilo de narração começaria a ganhar respeito estadual.
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Nos anos 90, no entanto, depois de um longo período de intenso brilho, a doença o obrigou a sair de cena. Ele deveria acatar decisões médicas que prescreviam um repouso longo e necessário.
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Pois foi num jantar Com Dona Neide Senna da Silva, em São Paulo, em março de 1995, que pedi a ela:- A senhora escreveria uma carta ao narrador gaúcho, um pelotense, que acompanhou o seu filho pelos principais autódromos do mundo? -Sim, farei isso com muito prazer. E fez.
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Algumas semanas depois a carta já estava em Porto Alegre, recebida por um Braunner entusiasmado, que a preservou, colocando-a entre vidros, na sala do seu apartamento da Azenha. Pois hoje, enquanto testemunho o brilho dos narradores Marcelo De Bona e Gustavo Manhago, este último um rio-grandino, ambos na rádio Gaúcha, fico a lembrar de jornadas outras, de outros tempos, nas quais empunhei orgulhosamente o microfone desta mesma rádio, durante duas Copas, transmissões de F-1 na Argentina, Brasil e África do Sul; a visita de João Paulo II ao Rio Grande do Sul em 1980; mais os 500 anos do Brasil, além da devolução de Hong Kong à China.
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E então concentro-me na ideia do Hélio Freitag: A de que se promova um concurso para narradores de futebol voltado para o Sul e Fronteira do Rio Grande, através do qual buscaríamos um novo ” Roberto Braunner”, ou muitos outros do seu padrão e do seu talento.
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O Freitag começou a narrar em Passo Fundo aos 14 anos de idade, e em 1968 já ingressava na rádio Passo Fundo, primeiramente na condição de repórter, e posteriormente promovido a narrador.
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Os apreciadores de rádio no Rio Grande do Sul merecem isso, e a busca desses nomes ainda desconhecidos dos torcedores de futebol servirá para motivar e despertar a imaginação do ouvinte, sempre em busca de uma nova voz carregada de energia. Afinal de contas, se a sorte é apaixonada por eficiência, devemos lembrar que a resposta mais curta – segundo os ingleses – é fazer!
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Quem se dispõe a projetar esse concurso no curto prazo e sem maiores hesitações? Afinal de contas uma nova voz, um novo estilo de narração, essa novidade tão necessária ao Sul do Rio Grande, chegaria numa boa hora. (13 H)
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*Jornalista e coordenador do Treze Horas há 46 anos.
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