NÃO VOLTEI PARA BUSCAR O QUE NÃO SOBROU
Ivon Carrico*
Decorridos quase 06 meses da tragédia ambiental que se abateu sobre o Rio Grande do Sul a mídia, impressa e eletrônica do País, tem publicado excelentes textos e reportagens para avaliar os estragos, as providências e a situação de milhares de pessoas que, ainda, estão desamparadas.
Hoje, lendo uma dessas reportagens, deparei-me com o depoimento de uma dessas desabrigadas – uma idosa de 69 anos.
Em comoventes e singelas palavras declarou que, há alguns anos, já perdera sua casa em um incêndio e que, agora, mais uma vez,… mas – desta feita – em uma enchente.
Não olhar para trás, segundo ela, foi uma escolha dolorida. Além do estrago causado pelas águas, viu pessoas carregando aquilo que sobrara.
Mostrou-se preocupada com o futuro visto a incerteza das providências prometidas pelos gestores públicos. Ainda mais em ano de eleição.
Tem razão. É triste e decepcionante ver quão pífio tem sido o resultado dos tantos discursos e promessas levadas a termo.
Aduza-se a isso que o idoso aqui e alhures sofre com o descaso, desatenção e desrespeito. Da sociedade e da própria família. Torna-se invisível. Daí ser procedente a sua extremada preocupação.
Fazendo uma rápida analogia com os acontecimentos na Ucrânia e no Oriente Médio – em que dezenas de milhares de pessoas perderam a vida e, os que restaram, suas casas e bens – realmente, não dá pra olhar pra trás! Não dá pra buscar o que não sobrou! Em todos os sentidos.
*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília – 03/10/2024