ARTIGO – 1808

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Por Clayton Rocha.

E pensar-se  que a nau de Dom João VI trazia a bordo o futuro Barão de Caçapava, cuja paixão por São José do Norte tinha tal magnitude que ele concentraria em nossa vizinha cidade todas as suas atenções e entusiasmos. Ali chegara, na condição de Capitão do Império, dali saíra para a glória em terras brasileiras, para ali retornaria no ocaso de sua extraordinária caminhada. Foi o nosso Luis Fernando Lessa Freitas quem interessou-se por ele, aqui  por estas bandas, pouco antes de sua surpreendente partida. Ao ler o excelente livro “1808” num só  fôlego, apressei-me em  localizar a história de vida de Francisco José Souza Soares de Andréa, o Barão de Caçapava, para poder valorizar seu nome e recuperar trechos de sua história, em artigo programado para 12 de dezembro de 2007,  por ocasião do quinto aniversário da morte do insubstituível Lessa Freitas.

Se, hoje, a Metade Sul tornou-se, segundo expressão de  Oswaldo Aranha, um deserto de homens e de idéias, resta-nos buscar no passado a inspiração para a retomada. Para tal empreitada, foi necessário abrir o baú empoeirado da história, de onde foram recolhidos  números e datas, até mesmo diante do túmulo do Barão, no Cemitério de São José do Norte, tarefa esta que o jornalista  Luis Carlos Vaz executou espontaneamente,  com o firme propósito de colaborar com a iniciativa. E quanto ao comportamento de homem simples, não afeito a deslumbramentos e a pormenores vulgares, vale dizer que sua conhecida conduta militar e política entraria em choque, nestes tempos, se falássemos de vultos políticos do momento, Governadores e Governadoras da última fornada, alguns deles inteiramente transfigurados, perceberíamos que estavam vestindo aquele conhecido modelito “daslu”,  segundo o qual não há coisa que mais mude os homens que o descer e o subir, e o subir muito mais que o descer.

A propósito, o que mais incomodava ao Barão de Caçapava era ter que  enveredar pelo terreno movediço do cinismo humano. Acostumado aos grandes silêncios, e aos habitantes simples de sua São José do Norte,  lembrava ele, de forma piedosa, o quanto é incontrolável aquela força que, em determinados períodos, instala-se nas mentes apequenadas. Para estes pobres diabos, –  diria o consagrado  Presidente do Pará ( 1836), Presidente de Santa Catarina (1839),  duas vezes Presidente do RS (1840 e depois 1848), e Presidente de Minas Gerais( 1844) – talvez fosse necessário elevar a voz e proclamar: – “o vosso diabo sois vós: a vossa vaidade, a vossa arrogância, a vossa ilusão de eternidade, a vossa ambição desmedida. Guardai-vos de vós, se vos quereis guardado”.

Do alto de seu prestígio, coube a este Capitão realizar o nivelamento da Quinta da Boa Vista e  levantar a planta de Copacabana. Fez uma fortaleza, em Caçapava,  para um exército de vinte mil homens. E foi o responsável pela demarcação do local onde foi construída a cidade de Santa Vitória do Palmar, em 1855. Nasceu em Lisboa, em 29 de janeiro de 1761, recebeu o título de Barão de Caçapava com honras de grandeza,  e morreu em 2 de outubro de 1858,  sendo sepultado em terras sul-rio-grandenses de São José do Norte.