ARTIGO – CHEGAMOS À FASE DO CONTÊINER

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CHEGAMOS NA FASE DO CONTÊINER

Paulo Gastal Neto*

Vai piorar! É o que dizem os especialistas e infectologistas. O Brasil adotou uma estratégia “genocida” ao apostar na chamada imunidade de rebanho, não agilizar a compra de vacinas no momento correto para combater a covid-19, o que possibilitou o surgimento de uma nova variante mais perigosa e que vem causando mais mortes, disse à BBC News Brasil o biólogo e divulgador científico Átila Iamarino. Ele disse muito mais, porém separei somente essas duas colocações para ilustrar esse início.

Enquanto países que adotaram medidas amparadas na ciência e na maturidade fundamentada na educação estão colhendo resultados animadores, o Brasil optou pelo caminho inverso e se prepara para ser um pária mundial com sua estratégia “genocida” como disse Iamarino. O nosso país está atrasado na vacinação, pois não teve gestão, agilidade e compreensão da dimensão da pandemia na hora certa e no momento correto. A vacinação no Brasil virou uma bagunça, alardeou o Dr. Drauzio Varela na semana passada em artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo. E é mesmo um fiasco. O Brasil subestimou o vírus assim como a Seleção Brasileira – em determinado tempo –subestimava seus adversários no futebol. Naquele momento perdemos a Copa, nada demais. Neste estamos tomando o caminhos dos contêineres.

Toda essa negligência, despreparo, conflitos políticos e um planejamento inexistente gerou a fase que estamos entrando neste momento. Estamos entrando na fase dos contêineres! O que é a fase de contêineres? É quando os hospitais necessitam alugar estruturas refrigeradas para empilhar os corpos humanos dentro desses troços.

Corpos de jovens que há uns dez dias atrás estavam em uma festa aglomerando e rindo não sei de que. Eles estarão lá dentro ou qualquer um de nós. Os contêineres servem para abrigar os corpos desses jovens e talvez também de seus tios, pais ou avós. Esses jovens que, muito certamente por sua imprudência em detrimento da falta de suporte cultural, acabaram contaminando seus familiares, pessoas a sua volta, colegas de trabalho, fechando um ciclo inquebrantável e altamente devastador, mudaram o panorama da pandemia.

Um contêiner desses refrigerados que servem para abrigar cadáveres estarão esperando talvez uma família inteira e nele serão jogados os  sacos de plástico lacrados com os cadáveres dentro. É esse mesmo o trâmite entre a contaminação através da irresponsabilidade e o fim do indivíduo, já que não se tem mais estrutura física, hospitalar, humana e emocional para abrigar doentes. Obra do absoluto despreparo e da negligência irresponsável da maioria dos gestores. Enquanto isso, o país assiste estupefato a chegada da fase dos contêineres. E pode piorar, pois pode faltar contêineres!

*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br