REFLEXÕES NO ANTIGO REINO DO SIÃO!
Sobrevoando o Mekong
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Clayton Rocha*
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Fazer jornalismo é produzir memória. Quarta-feira, 6 de novembro de 2024, uma data que diz muito: – Pois sem missão não há homem!
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Do avião, experimento a impressão de entrar no futuro pela janela. E por conta desta constatação também descubro que a geografia do mundo melhor se aprende vista no mesmo mundo do que pintada no mapa! Eu estou sobrevoando o Mekong, um dos maiores rios do mundo, com os seus quase cinco mil quilômetros de extensão, e sou beneficiado pela intensidade dos raios do Sol enquanto o avião corta os céus do Sudeste Asiático permitindo-me enxergar toda a sua imponência silenciosa, acrescida desses seus 73 metros de profundidade que o tornam diferenciado além de misterioso lá no mais fundo de suas entranhas.
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Agrada-me muito aquele trecho poético de François Mitterrand, o antigo presidente da França, quando dizia experimentar – dentro do avião – o mesmo choque, a mesma impressão de entrar no futuro pela janela! No meu caso, sendo eu um apreciador de trens rápidos e de trilhas lentas, e sob o benefício de uma imaginação fértil e ousada, ( graças a Deus), delicio-me agora com aqueles antigos sonhos da meninice voltados para o Sudeste Asiático: onde aparecem com destaque Hanói, 1349 km distantes de Bangkok; e Ho Chi Minh, a antiga Saigon, 1.205 km via rodoviária a partir da capital tailandesa. Mas por enquanto, antes de viabilizar essas duas outras viagens, continuo enxergando o Mekong que nasce no alto do Himalaia descendo pelas encostas das montanhas, por entre as rochas e os bancos de areia, cujas estruturas formam o seu leito, valorizando-o cada vez mais por possuir no seu delta o maior celeiro de arroz do Vietname.
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A propósito de rios, impensável deixar de lado esse Chao Phraya que tem como nascente o rio Ping, no Golfo da Tailândia, e cuja poética rota turística- em barcos ” James Bond” – conduz o turista ao Mercado Flutuante (foto com o jornalista José Ricardo Castro) de Damnoen Saduak, distante 100 quilômetros ao Sudoeste de Bangkok, num endereço de elefantes domesticados e de centenas de barcos sobrecarregados de produtos tailandeses, destacando-se flores e frutas em quantidades inimagináveis, e que propiciam os sabores e os perfumes nunca antes imaginados. Vale aqui lembrar o que dizem os comerciantes flutuantes tailandeses na suprema sinceridade que os identifica:- Não devemos temer as surpresas desta vida, mas temos esse dever, o de saber ser ausência onde nossa presença não faz diferença.
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Uma Tailândia com uma população 95% budista tem as suas convicções inarredáveis. E então diz: – Lembra-te de que na cela ou no retiro, no Mosteiro ou no Templo, (e a Tailândia tem 40.000 templos budistas) um foge do inferno e o outro sonha com o paraíso. Mas quem conhece o “segredo” do seu” Deus” não lança tais sementes no seu coração.
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Por fim, ao imaginar-me percorrendo essas consagradas trilhas vietnamitas -aqui pelas redondezas – reabasteço o meu espírito através daquela máxima preciosa de Ortega Y Gasset, essa “pérola” literária que dá um recado definitivo:– “Caminhe lentamente, não se apresse, pois o único lugar ao qual você tem que chegar é a si mesmo”.
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O antigo Reino do Sião foi fundado em 1.350 e perdurou até a intervenção birmanesa – em 1767. O Reino do Sião, ao qual os portugueses chegaram entre 1511 e 1513, firmou com Portugal – há 500 anos – um tratado de amizade.
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*Jornalista e coordenador do Treze Horas há 46 anos.