O QUE É A MORTE?
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Clayton Rocha*
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O tema me fascina e, ao mesmo tempo, me atemoriza.
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Se a considerarmos em si só, se, por uma abstração mental, a separarmos dos fantasmas que lhe associamos, veremos que não passa de uma operação da natureza; e é infantil temer uma operação da natureza. Não é apenas uma operação da natureza, e sim uma operação útil à natureza. Como pode o homem atingir Deus? Por que parte de si mesmo? e mediante que disposição dessa parte?
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Pois que se aguarde a morte com serenidade, nela não vendo mais que a dissolução dos elementos constitutivos de todos os seres; ora, se para os elementos nada há de horrível em se transformarem incessantemente uns nos outros, por que temer a transformação universal e a universal dissolução? Exige-as a natureza, e nada é mal que se faça segundo a natureza. Não há mal para os seres em se transformarem, como não há bem algum em nascerem de uma transformação. O tempo é como um rio que tudo carrega, uma torrente impetuosa. Mal se vislumbra alguma coisa, ei-la que some; outra surge e já vai ser levada.
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Tudo quanto acontece é tão trivial e familiar como a rosa na primavera e a colheita no verão; não há como considerar de outro modo a moléstia, a morte, a calúnia, a insídia, e tudo aquilo que alegra ou aflige os ignorantes.
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MARCO AURÉLIO ANTONINO (121-180).
Imperador de Roma.
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*Jornalista e coordenador do Treze Horas há 46 Anos.