MEDO DE UM PORTO REVELA INÉRCIA REGIONAL
Paulo Gastal Neto*
O recente anuncio, que confirma a construção de um novo porto marítimo no Rio Grande do Sul, no litoral norte, é na verdade e ao contrário do que se propugna por aqui, uma excelente notícia para o nosso estado. Está correto o governador Eduardo Leite ao prestigiar o investimento, através da estrutura do governo gaúcho colocando os secretários de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, e de Comunicação, Caio Tomazeli, a disposição dos representantes da concessionária do futuro empreendimento.
Eduardo Leite não é governador da ‘Zona Sul’ e sim do estado inteiro. Um pensamento diferente flerta com atitudes retrógradas, instrumentos da passividade e da inércia. A Zona Sul do RS acostumou-se a ficar esperando, criar comissões inúteis, promover seminários infrutíferos, pedir favores fora de tempo e torcer para que as coisas caiam como dádivas governamentais. Falta por aqui a ação efetiva, a busca por investimentos privados com a solidez e respaldo da segurança jurídica. Nos falta um conjunto de ações entre os prefeitos, como a desburocratização das prefeituras da região, a eficiência nos licenciamentos, a agilidade em favor do investidor, o incremento de parques industriais e a integração entre entidades. Pautas que não estão no horizonte dos líderes locais.
O novo porto gaúcho vai garantir ao RS uma posição estratégica. Está próximo da região da Serra, e vai beneficiar o escoamento da produção do polo metal mecânico, situado naquela parte do estado. Ao contrário da ideia de ser contra o porto na região norte, a região sul deveria sim é lutar por mais investimentos para o Porto de Rio Grande, implementar medidas para que a competitividade do terminal se mantenha viva.
Em recente anúncio, a Wilson Sons comunicou a venda de seu controle para a SAS Shipping Agencies Services Sàrl, subsidiária integral da MSC (Mediterranean Shipping Company). Essa notícia já deveria ter gerado um movimento forte em favor do Tecon Rio Grande. Aquele terminal é operado pela Wilson Sons, com quase 30 anos de atuação e entrou no negócio. Ele é o porto brasileiro mais bem avaliado no ranking nacional, sendo considerado o mais eficiente do Brasil, na abordagem administrativa do Índice Global de Desempenho Portuário de Contêineres do Banco Mundial (CPPI) e IHS Markit. Isso sim deve ser alardeado e aproveitado para que se propague a boa capacidade da região ao invés do chorôrô e da lamúria que estamos assistindo.
No mês de agosto passado a empresa Sagres Operações Portuárias, em leilão público feito pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), arrematou áreas públicas no Porto do Rio Grande. Isso só revela o espaço para crescimento das atividades no terminal do sul do estado. Segundo a gerente de planejamento e desenvolvimento da Portos RS, Flávia Galarraga, os armazéns possuem como finalidade o depósito de carga geral, enquanto a Central de GLP e o anexo do armazém B3 são classificadas como área de apoio operacional. O contrato de arrendamento é válido pelo prazo máximo e improrrogável de dez anos. O presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, disse que o resultado do leilão demonstra o quanto as empresas acreditam no complexo portuário do Rio Grande. A Sagres é uma empresa com 22 anos de atuação no Porto do Rio Grande.
Outra questão latente está relacionada a nova concessão do trecho da rodovia Porto Alegre – Pelotas – Rio Grande – Jaguarão envolvendo as rodovias BR-116 e BR-392. O chamado Polo Rodoviário Pelotas. Hoje o trecho está sob concessão, mas ela está em vias de se encerrar e o novo contrato necessariamente deve passar por um crivo e avaliação das forças econômicas do sul do estado. Pouco está se vendo em matéria de mobilização sobre este tema decisivo para os interesses regionais. Recentemente um ‘porto seco’ na região foi literalmente ‘boicotado’ por ditos líderes de classe, informou uma liderança do setor de transportes. É o famoso caranguejo no balde.
Ao contrário do Porto de Rio Grande, o Porto Meridional de Arroio do Sal será implantado em formato TUP – (Terminal de Uso Privado) e terá a concessão administrada pela Porto Meridional Participações S/A. Além de reduzir custos logísticos, o porto permitirá maior agilidade no escoamento de produtos gaúchos. A partir desse projeto, a economia do estado se beneficiará com novas rotas comerciais e ampliação da capacidade de exportação, portanto é dever do governador do estado estar ao lado de tamanho investimento empresarial. Qualquer pensamento em contrário é absurdamente incoerente e não condiz com o cargo que lhe foi delegado pelos gaúchos de todas as regiões, não somente aqui do sul.
É bom que tudo isso esteja acontecendo e que as entidades regionais sejam colocadas em xeque. Que os prefeitos, ao invés de reunirem-se para debater boicote ao novo porto, convoquem plenárias para estimular trabalho conjunto entre seus municípios em favor do crescimento e do desenvolvimento. Está aí uma ótima oportunidade para os recém eleitos promoverem estímulos de avanços e não retrocessos.