O mês de abril é marcado pelo Dia Mundial da Conscientização, celebrado anualmente desde 2007 em 02 de abril – data foi instituída pela ONU;
Psicóloga avalia que a conscientização social sobre o tema é uma forma de promover a inclusão e romper estereótipos – Dados são da Faders, instituição vinculada à Sedes
Nesta quarta-feira, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 com o objetivo promover informações relevantes para a sociedade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que vão desde como identificar os primeiros sinais, diagnóstico, intervenções, modelo de tratamento clínico e principalmente sobre a importância da inclusão.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, no mundo, existam 70 milhões de pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA) — 2 milhões só no Brasil, segundo último levantamento.
A Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders), instituição vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), inclusive, divulgou recentemente a pesquisa Características da População com Autismo no RS. De acordo com o levantamento há uma distribuição demográfica variada no RS, com uma predominância masculina significativa, correspondendo a 75,09% dos casos.
Mas como diagnosticar e promover a inclusão de pessoas com TEA? A psicóloga Luana Galleano Mello, explica que o TEA se caracteriza como um processo do neurodesenvolvimento que envolve principalmente aspectos da cognição social. Para a especialista, ampliar o estudo sobre a população e repassar informações científicas e éticas, traz uma conscientização social, fator que contribui para quebrar paradigmas e facilita a inclusão.
Quanto ao diagnóstico, Luana ressalta que esse pode ser um processo contínuo, com monitoramento e reavaliação ao longo do tempo para ajustar intervenções e suportes conforme necessário.
O diagnóstico precoce e preciso é crucial para iniciar intervenções que podem melhorar significativamente a qualidade de vida da pessoa com TEA.
“A conscientização sobre o tema é fundamental para romper estereótipos. Promover estudos, levantamentos e falar tecnicamente sobre autismo são iniciativas que contribuem significativamente para inclusão social. As pessoas no espectro do autismo têm habilidades, potencialidades e talentos diversos, mas infelizmente, muitas vezes, são subestimados ou não compreendidos pela sociedade”, avalia.
Luana ressalta ainda que essa compreensão de o que é o autismo contribui para a criação de uma sociedade mais justa, inclusiva e compassiva, onde todos os indivíduos, independentemente de sua condição neurodiversa, tenham direitos iguais.
“Não apenas a celebração da data anualmente, mas pesquisas sobre autismo nos oportuniza a refletir enquanto sociedade, no intuito de criarmos, cada vez mais, ambientes que valorizem, estimulem e incluam com qualidade as pessoas que estão dentro do espectro. Desde intervenções terapêuticas até ajustes no ambiente escolar e de trabalho, a compreensão das necessidades garante que todos recebam o apoio necessário para alcançar o seu pleno potencial”, ressalta.
De acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), o TEA se caracteriza por déficits persistentes na comunicação social e interação social em diferentes contextos, assim como a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. Além disso, pode apresentar atrasos em marcos importantes do desenvolvimento e as características aparecem nos primeiros anos de vida. Ainda de acordo com o DSM V, o autismo é classificado por níveis de suporte necessários para o desenvolvimento do sujeito, já que cada sujeito é único e precisa de uma avaliação baseado em suas necessidades específicas.
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ARTIGO
Autismo e inclusão
Ângela Pereira Miguelis Caruso e Eduardo Gil da Silva Carreira*
O ativismo construtivo e proativo pela inclusão reconhece que cada pessoa, independentemente de suas características e condição social, deve ter o direito de participar plenamente da sociedade. No contexto da conscientização assertiva, incluir significa garantir que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sejam acolhidas, respeitadas e tenham acesso igualitário a oportunidades em todas as áreas, como educação, trabalho, saúde e lazer. Um dos grandes desafios para sensibilização sobre o TEA está na pobreza de informação, o que produz ideias de generalidades, as quais são levianas, temerárias e discriminatórias.
O Autismo está presente em todas as classes sociais por ter a carga genética um papel substancial, fato desvelado por pesquisas que sugerem entre 70% a 90% do risco hereditário de desenvolvimento do TEA. Dentro da pirâmide social, há evidências de que as famílias de classes sociais mais baixas enfrentam desafios adicionais no diagnóstico e no acesso ao acompanhamento, não só quanto ao Autismo, mas à prestação de saúde básica. Famílias de baixa renda já enfrentam uma série de dificuldades financeiras, e o custo adicional de criar uma criança com autismo, somado ao estresse emocional, pode aumentar ainda mais a vulnerabilidade dessas famílias. Em que pese toda previsão legislativa e políticas públicas de acesso, nas comunidades mais pobres esses desafios são amplificados devido à falta de recursos, de esclarecimentos e de acesso a serviços de saúde especializados. À desinformação somam-se negativamente uma legião de oportunistas com fins comerciais ou de marketing, sem um compromisso real com a causa, utilizando o Autismo para promover produtos ou serviços sem beneficiar diretamente a comunidade autista. As tentativas de apropriação exclusiva do tema Autismo por um grupo ou indivíduo(s) com o intuito de monopolizar o discurso, a representação ou as iniciativas relacionadas ao TEA, alegando uma pretensa legitimidade, nada contribuem para conscientização. Os que compreendem sabem a diversidade dentro do espectro autista e as várias formas de vivência dessa condição, com o uso de abordagens terapêuticas, educacionais e sociais, oportunizando as famílias explorarem diferentes formas de apoio. O melhor resultado é obtido por meio da difusão do conhecimento e ampliação da rede de apoio, sem sectarismo ou exclusão de pessoas autistas e suas famílias, preservando a perspectiva mais autêntica e relevante, que é a das próprios neurodivergentes dentro do espectro, independentemente da posição social.
A batalha diária deve ser pela inclusão e não por um rótulo ou crença sectária. Devemos incentivar e cobrar mais políticas públicas com acesso a profissionais especializados em saúde mental e desenvolvimento infantil para intervenções precoces. Com base na legislação vigente, buscar os direitos ao atendimento prescrito pelo profissional da área médica, para desenvolver as habilidades sociais e de comunicação. Essa abordagem se fundamenta em princípios de igualdade, respeito à diversidade e defesa dos direitos humanos, com suporte legal e orientação às famílias, auxiliando-as a navegar em sistemas legais e administrativos, em questões relacionadas ao diagnóstico, educação, tratamentos e serviços disponíveis. As garantias legais devem ser buscadas por operadores do Direito habilitados e competentes, por meio de um conjunto de práticas e ações jurídicas que buscam garantir os direitos das pessoas autistas e promover sua inclusão plena na sociedade.
A inclusão colaborativa envolve ajustar ambientes, práticas e atitudes para que sejam acessíveis e acolhedores para todos. A contribuição deve ser para um ambiente mais justo e acessível, reconhecendo que as diferenças são uma parte natural da diversidade humana, contribuindo para a desestigmatização e a promoção de uma cultura mais acolhedora e informada. Ao apoiar políticas favoráveis e praticar a inclusão, promovemos uma mudança cultural de valorização e criamos espaços onde pessoas com autismo podem desenvolver seus potenciais sem barreiras discriminatórias, beneficiando a sociedade como um todo.
*Autores
Ângela Pereira Miguelis Caruso Terapeuta e Mãe Atípica Pós-Graduanda em Educação Inclusiva com ênfase em Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades Instagram @prof_angelacar E-mail angelapmcaruso@gmail.com | Eduardo Gil da Silva Carreira Advogado – OAB/RS 66.391 Pós-Graduando em Transtorno do Espectro Autista (TEA): Inclusão Escolar e Social Instagram @carreira.adv.inclusiva |