AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO – PARTE 8

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AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO

De forma pioneira o site do Pelotas Treze Horas, começou a publicar no dia 30.11.24, um roteiro cinematográfico sobre o pelotense ilustre, João Simões Lopes Neto. De autoria dos escritores Lourenço Cazarré e seu filho, Érico Cazarré, esta é a primeira vez que um espaço pelotense e quem sabe do RS está publicando, semanalmente, um roteiro cinematográfico.

Ele está sempre aos sábados aqui no site – www.pelotas13horas.com.br – e se estenderá por mais 2 capítulos. Confira a VIII Parte:

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PARTE 8

CENA 48 – Atividades Cívicas

Na sequência Simões surge em cima de palanques, em inaugurações, em cerimônias cívicas. Aparece então a fachada da Biblioteca Pública Pelotense. Depois vemos a sala de diretor, a porta se abre e surge Simões sentado, escrevendo. Depois ressurge a fachada do clube Caixeiral, com peças de teatro sendo encenadas. Aparecem letreiros estilizados com os textos “União Gaúcha” “Sociedade Protetora dos Animais” “Clube Ciclista” “Associação Agrícola Pastoril” “Praça do Comércio” “Associação Comercial” “Tiro de Guerra” “Clube Comercial” “Sociedade Musical União Democrática”, “Clube Congresso Português”.

Loc.

João Simões Lopes Neto sempre teve orgulho de ser um cidadão extremamente prestimoso.

Loc 2

Aceitou cargos em inúmeras entidades públicas da cidade. Incansável, trabalhou pela educação, cultura, comércio e indústria.

Loc

Presidiu três entidades: União Gaucha, Sociedade Protetora dos Animais e Clube Ciclista. Comandou as atividades artísticas no Clube Caixeiral, cujos grupos amadores de teatro encenaram suas peças.

Loc 2

Simões ainda emprestou sua inteireza moral, vigor e inteligência à Associação Agrícola Pastoril, à Praça do Comércio, à Associação Comercial, ao Tiro de Guerra, ao Clube Comercial, à Sociedade Musical União Democrática e ao Clube Congresso Português. Por mais de vinte anos foi diretor da Biblioteca Pública Pelotense.

Cena 49 – As duas Terras gaúchas

Imagens da biblioteca, da publicação Terra gaúcha em suas duas versões.

Loc.

Em 1904, quando presidia a Biblioteca Pública, Simões pronunciou uma conferência que ficou famosa: “Educação Cívica – Terra gaúcha”

Ali disse que era necessário escrever um livro de história da pátria que fosse amado pelas crianças. Uma obra alegre que envolvesse os pequenos numa “torrente alterosa de civismo”. Um livro que cantasse “a serenidade dos nossos heróis, a independência e a firmeza de nossos maiores”.

Loc2

A partir de então haverá uma grande confusão entre duas obras dele que têm um mesmo nome: Terra gaúcha.

Loc

Um desses livros, em dois volumes, era um compêndio de História do Rio Grande do Sul destinado a estudantes.

Loc 2

A saga dessa obra começou em 1926, quando Dona Velha entregou seus dois tomos a Alcides Maya, um escritor gaúcho radicado no Rio de Janeiro para que lá encontrasse um editor.

Loc

Mas Dona Velha nunca obteve resposta às muitas cartas que enviou depois a Alcides Maya pedindo notícias da Terra gaúcha.

Loc2

Em 1944, pouco antes do falecimento de Alcides Maya, o original do primeiro volume desse Terra gaúcha foi encontrado em uma mala na casa de uma cunhada de Dona Velha, em Pelotas.

Esse livro que, vai da pré-história do Estado até 1737, acabou sendo publicado em 1955.

Loc

Há, porém, um outro Terra gaúcha. Esse livro, que tem como subtítulo Histórias da infância, permaneceu inédito por mais de um século.

Loc 2

Dividido em duas partes – “As férias, na estância” e “O estudo, no colégio”, o segundo Terra gaúcha tem como narrador um menino que relata suas aventuras numa propriedade rural e na escola.

Cena 50- A descoberta da Artinha de Leitura

Imagens do livro Artinha da Leitura.

Loc.

Mas existe ainda outro livro de Simões, também dedicado às crianças, uma cartilha, cujo título é Artinha de leitura, que teve uma história ainda mais fantástica.

Loc 2

Há muito se sabia da existência dessa cartilha. Sabia-se que ela fora rejeitada pelas autoridades estaduais de educação. Havia até mesmo um texto do escritor em defesa dessa sua obra.

Imagem animada mostra uma mulher encontrando o pequeno livro em uma biblioteca desorganizada. O livro é levado para a Universidade de Pelotas por ela. Lá o livro aparece sendo escaneado.

Loc.

Em 2008, em Porto Alegre, ao revisar sua biblioteca, uma professora de História teve sua atenção despertada para um livreto que comprara 30 anos antes num sebo.

Loc 2

Vendo que o texto – intitulado Artinha de Leitura – era de João Simões Lopes Neto, a professora o repassou a uma colega da Universidade Federal de Pelotas.

Loc

Foi assim que, cem anos, dois meses e 29 dias depois de ter sido rejeitado pelo Conselho de Instrução Pública do Rio Grande do Sul, renasceu – digitalizado! – um livro que pretendia facilitar o acesso das crianças ao mundo da palavra escrita.

Loc 2

Além de ensinar técnicas de alfabetização, Artinha de Leitura trazia muitos conselhos aos professores.

Loc

As recomendações de Simões aos professores mostram que ele estudou seriamente o assunto.

Loc 2 (Voz de Simões)

Não desperte nunca na criança o medo, a inveja, o crime, o espírito de intriga; desculpe os atos irrefletidos devidos a travessuras próprias da idade, mas castigue qualquer tendência aos vícios do caráter. Os castigos físicos ferem e rebaixam o amor próprio das crianças.

A calma, a moderação, a paciência, a meiguice – e a constância são os predicados do educador.

Não se deixe – nunca! – invadir pela cólera.

Cena 51- Um livro rejeitado

Imagem de Simões levando o livro a um prédio público. Surgem letreiros com a decisão contrária ao livro.

Loc.

Artinha de leitura chegou ao Conselho de Instrução Pública do Rio Grande do Sul em fevereiro de 1907.

Um ano e meio depois foi emitido um parecer contrário à sua utilização em escolas.

Loc 2

“Entende o Conselho que, não podendo o Estado impor a ortografia sugerida pelo autor, deve ser reparado o trabalho por estar em desacordo com o regulamento e não obedecer ao critério de ensino”.

A animação mostra novamente Simões sentado à mesa escrevendo.

Loc.

O escritor alegou que sua Artinha de Leitura, por ser eminentemente prática, era superior aos livros então adotados nas aulas públicas.

Loc 2

Simões se disse partidário da simplificação da grafia da nossa língua, defendida pela Academia Brasileira de Letras.

Loc

O escritor alegou ainda que França, Itália e Espanha estavam uniformizando e simplificando a grafia em seus idiomas.

Loc2

Disse também que, ao vetar meu livro, o Conselho queria afastar a infância do “contato herético com a simplificação de grafia”.

Loc

Artinha de leitura foi depois remetida para exame na capital do país, no Rio de Janeiro, mas lá não foi aceita nem pelo Senado nem pelo Ministério da Educação.

Um senador teria dito a Simões Lopes Neto, durante a estada dele no Rio de Janeiro, que era absurda a sua ideia de escrever máquina com QU ou fósforo sem o PH.

Simões aparece riscando um fósforo com sorriso no rosto. A seguinte frase surge na tela com indicação da autoria de Simões Lopes Neto

Loc 2

O escritor respondeu ironicamente.

– Tem razão, doutor, fósforo sem PH é capaz de nem acender…

Cena 52 – Os trabalhos de Hércules

O escritor surge cercado de pessoas que lhe fazem questionamentos. Ele responde pacientemente.

Loc.

João era uma enciclopédia ambulante. Na redação de um jornal ou na rua, a todo momento, ele era interrompido por pessoas que o consultavam sobre os mais diversos assuntos.

Loc 2

O escritor, que tinha fama de sabe-tudo, respondia a todos porque se considerava uma espécie de consultor público gratuito. Foi um antecessor do Google.

Animação mostra Simões em debates calorosos na Livraria Universal, gesticulando energicamente. Os letreiros identificam que a fala a seguir é do filho do editor que lançou seus livros, Sílvio Echenique.

Loc

Um dos mais interessantes depoimentos sobre o escritor foi prestado por Sílvio Echenique, filho do editor que lançou os livros de João Simões Lopes Neto.

Loc 2 (Voz de Sílvio)

Desde os cueiros conheci-o no convívio de nossas famílias. E segui-o nos tempos em que comprava puxa-puxa de rapadura, dois por vintém, havendo um de inhapa, feitas pela dona Cazuza, sua cunhada. E mais tarde pescava chistes que brotavam na tertúlia diariamente formada na Livraria Universal, a qual João Simões frequentava assiduamente. Ele, alvejado pelos amigos, empertigava ainda mais o seu corpo franzino e retrucava pronto, gesticulando com sua mão encardida pelo fumo, tal como o seu bigode, em contraste com a sua gravata de piquê branco, imaculada. Mas João Simões não era levado muito a sério pelos seus íntimos e conterrâneos. Havia tentado diversas ocupações e fracassara.

Segue sábado que vêm…