AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO
De forma pioneira o site do Pelotas Treze Horas, começou a publicar no dia, 30.11, um roteiro cinematográfico sobre o pelotense ilustre, João Simões Lopes Neto. De autoria dos escritores Lourenço Cazarré e seu filho, Érico Cazarré, esta é a primeira vez que um espaço pelotense e quem sabe do RS está publicando, semanalmente, um roteiro cinematográfico.
Ele está sempre aos sábados aqui no site – www.pelotas13horas.com.br – e se estenderá por mais 7 capítulos. Confira a III Parte:
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AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO – PARTE 3
Cena 20- A Revolução Federalista
A animação agora revela imagens da Revolução Federalista e apresenta Simões fardado como oficial da Guarda Nacional.
Loc.
Em fevereiro de 1893 eclodiu no Rio Grande do Sul a sangrenta Revolução Federalista, que resultou na morte de dez mil pessoas. Duas mil delas foram degoladas!
Loc 2
Esse conflito causou graves danos à economia da região sul do Estado, assentada na pecuária e na produção de charque.
Loc
Em 1894, João Simões Lopes Neto foi nomeado tenente da Guarda Nacional, lotado no Terceiro Batalhão de Infantaria.
Loc 2
Mas não entrou em combate, nem mesmo nas breves escaramuças travadas em cidades próximas como Canguçu e São Lourenço.
Animação agora representa Simões sonhando com o teatro e seus empreendimentos e, posteriormente, pedindo dispensa do exército.
Loc.
Empolgado com seus sucessos no teatro e envolvido com seus empreendimentos, João logo pediu licença da Guarda para tratar de assuntos pessoais.
Loc 2
Como a licença não lhe foi concedida em Pelotas, precisou viajar ao Rio de Janeiro. Conseguiu lá uma liberação por 60 dias, depois renovada por mais seis meses.
Finalmente, em 1901, foi promovido a capitão, título que exibiria com orgulho
Cena 21 – O segundo grande negócio
Animação retoma letreiros representando a década de 1890. A fábrica de vidros sendo fechada e o documento de autorização para abertura da Companhia de destilação.
Loc.
Os percalços empresariais do escritor nos anos 1890 não se limitaram à vidraria.
Paralelamente, ele se envolveu em outra grande empreitada.
Loc 2
Quando a fábrica de vidros começava a funcionar em direção à falência, João Simões Lopes Neto recebeu autorização para constituir a Companhia de Destilação Pelotense.
Imagens seguem mostrando a destilação de cereais e atividades de suinocultura na época.
Loc.
A Companhia de Destilação Pelotense tinha como objetivo fabricar de álcool usando cereais. As sobras seriam usadas para a engorda de gado suíno. Na ponta, os empresários venderiam banha e carne suína salgada.
Loc 2
A empresa produziria 800 litros diários de álcool.
Os resíduos dos cereais serviriam para alimentar suínos.
Insólito! Na terra das charqueadas, Simões queria engordar e vender porcos!
Imagens de Simões com sócios nos negócios, apertos de mão, assinaturas de documentos.
Loc.
Como no caso da Vidraria, muitos se juntaram a ele em mais essa aventura. Os acionistas eram mais de 40.
Loc 2
Descobriu-se que o maquinário comprado inicialmente para a destilação era de segunda mão.
Feita outra aquisição diretamente de uma fábrica da Alemanha, o material chegou com muito atraso.
Seguem-se imagens da suinocultura e da destilação dos cereais. Surgem letreiros representando a queda dos valores das ações de 200 mil réis para 120 mil.
Loc
O primeiro balanço registrou prejuízo de trinta contos de réis.
Por causa da Revolução Federalista, tudo custou o dobro do estimado.
Loc 2
Os animais adquiridos não corresponderam, com banha e carne, às expectativas dos investidores.
Faltou pessoal para tocar as obras e para montar o maquinário.
As ações de 200 mil réis caíram para 120 mil.
A animação mostra a chegada das novas máquinas, mas as imagens são substituídas pela fachada do prédio industrial sendo fechado. Sobrepõem-se letreiros mostrando a frase citada.
Loc.
Em dezembro de 1894, entraram em funcionamento as máquinas trazidas da Alemanha. O álcool extraído de cereais chegava a 40 graus.
Loc 2
Seria uma boa notícia, mas que chegou tarde. Em maio de 1895, os acionistas resolvem dissolver a companhia.
Imagem de um jornal noticiando a frase: “A Destilação Pelotense fatalmente apresentaria lucros esplêndidos se tivesse os meios necessários”. A imagem do jornal pega fogo.
Cena 22 – O sonho do Arroio Santa Bárbara
Animação mistura com dinamismo imagens de empreendimentos comerciais de Simões. As imagens desembocam um uma sequência em que aparece o Arroio Santa Bárbara. A animação nos permite visualizar o surgimento de docas, guindastes, armazéns e navios no arroio.
Loc.
O empreendedor João Simões Lopes Neto atacava em várias frentes ao mesmo tempo. Mas não levava adiante sozinho as suas aventuras. Arrebanhava muitos parceiros com seus extraordinários dotes de sonhador, publicitário e relações públicas.
Loc 2
Um dos seus sonhos era canalizar o arroio Santa Bárbara. Pretendia criar ali um cais munido de guindastes, mercado e armazéns. Sanearia o arroio e urbanizaria suas costas. Em troca, queria cobrar impostos por 90 anos!
Animação mostra o prefeito negando a autorização e lançando uma concorrência pública. Simões com um contrato de vencedor da concorrência recebendo respostas negativas de investidores. Por fim a imagens do arroio ressurge e as benfeitorias desaparecem, restando apenas a imagem do local inalterado.
Loc.
Simões Lopes Neto elaborou um estudo sobre o assunto, mas o prefeito exigiu uma concorrência pública. Simões saiu vencedor.
Loc 2
Mas a obra não foi adiante. Não apareceram sócios com dinheiro.
Loc
É interessante lembrar que na mesma época dois outros empreendimentos – vidraria e destilação – estavam sendo tocados pelo neto do Visconde da Graça.
Loc 2
O sonho da urbanização do Santa Bárbara acabou em 1896, quando o intendente pediu a Simões e seus sócios que desistissem da concessão para que a Prefeitura pudesse tocar as obras.
Cena 23 – Mentalidade local
A animação adquire um tom mais personalista, imagem de Simões amargurado escrevendo sozinho em seu escritório. Frases de Simões aparecem em destaque em letra cursiva.
Loc.
Magoado com o fracasso desses seus negócios iniciais, João Simões Lopes Neto atacou a mentalidade local.
Surgem letreiros na tela com a frase e a indicação da autoria de Simões:
Loc 2
Que cada um cuide de si… e quem for bastante pateta para pensar nos outros que se enforque e que o Diabo o carregue.
Cena 24 – O casamento com Dona Velha
Animação anterior se dissipa. Após uma breve pausa surgem imagens de Dona Velha, Simões e seu casamento com ela.
Loc.
Francisca de Paula Meireles Leite Simões Lopes desde mocinha era conhecida como Dona Velha. A esposa de João Simões Lopes Neto era bem mais decidida e enérgica que ele.
Loc 2
Ao morrer, o escritor a deixou sem rendas ou bens. Para enfrentar as despesas, ela passou a trabalhar em casa, como costureira.
Em 1918, conseguiu um emprego no qual se manteria por trinta anos. Foi nomeada secretária do Conservatório de Música de Pelotas.
Loc
Dona Velha falava carinhosamente do esposo.
A animação se aproxima do rosto dela, aos poucos as imagens que representam as lembranças dela se tornam nítidas. Voltamos a ver Simões, sentado escrevendo, pensativo e com semblante tranquilo.
Loc 2 (Voz de Dona Velha)
Ele era uma pessoa sempre de boa paz. Embora não fosse ruidoso, era cheio de vida, gostava de assuntos divertidos. Entre boas gargalhadas, comentava as coisas engraçadas que aconteciam na cidade. No mais, fora do trabalho e dos negócios, metia-se no seu gabinete, com um livro nas mãos, ou então escrevendo. Às vezes ficava tempos sem fazer uma coisa nem outra, recolhendo-se silencioso ao seu gabinete ou a um canto qualquer da casa. E quando acontecia de fazerem barulho, ele pedia, na sua voz tranquila: “não espantem os passarinhos”.
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Segue sábado que vêm…