AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO – PARTE 10 – FINAL

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AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO

De forma pioneira o site do Pelotas Treze Horas, começou a publicar no dia 30.11.24, um roteiro cinematográfico sobre o pelotense ilustre, João Simões Lopes Neto. De autoria dos escritores Lourenço Cazarré e seu filho, Érico Cazarré, esta é a primeira vez que um espaço pelotense e quem sabe do RS está publicando, semanalmente, um roteiro cinematográfico.

Neste sábado, dia 01.02, estamos publicando a parte X e encerrando dessa forma AS MUITAS VIDAS DE SIMÕES OLOPES NETO, um roteiro cinematográfico. Confira a X Parte:

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AS MUITAS VIDAS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO – PARTE 10

 65 – O longo caminho para o sucesso

Entra cena de animação que mostra imagens da primeira edição do livro Contos Gauchescos sobreposto por letreiros com a frase citada e a indicação da autoria de Antônio de Mariz.

Loc.

Em vida, o escritor leu apenas uma crítica séria sobre seu trabalho literário: uma resenha escrita em 1913 por Antônio de Mariz.

Loc 2

“No livro predomina uma inspiração artística que imprime com naturalidade e concordância, em caprichoso ziguezague geográfico, a vida e o tipo de vaqueano, identificado com a natureza; do homem simples, mas que sabe expor o que sente, o que vê, o que lhe impressiona, dispondo somente da sua razão, do seu critério”.

Cena 66 – Reconhecimento Póstumo

Imagens do poeta Olavo Bilac sobrepostas à imagem de Pelotas.

Loc.

Como muitos outros grandes artistas, Simões só teve sua obra reconhecida após a morte.

Loc 2

Ao chegar a Pelotas, em novembro de 1916, o poeta Olavo Bilac foi visitar o túmulo de Simões, falecido cinco meses antes.

Depois, antes de iniciar sua conferência, leu a lenda do “Negrinho do pastoreio”.

Surge o túmulo de Simões e a indicação do ano: 1917. Imagem de “O contrabandista”.

Loc.

Só após o falecimento do autor revistas e jornais começaram a publicar seus contos. No Estado, isso ocorreu já a partir de 1917.

Loc 2

A primeira publicação de um conto simoneano fora do Rio Grande do Sul ocorreu oito dias depois de seu falecimento.

Foi em 22 de junho de 1916 quando a Seleta – popular revista carioca – estampou “O contrabandista”.

Na sequência são apresentados letreiros com a citação a seguir e a indicação da autoria de João Pinto da Silva. A data 1922 também é apresentada na imagem.

Loc.

O primeiro escrito apontando Simões Lopes Neto como um grande escritor surgiu em 1922, seis anos depois sua morte.

Loc 2

Nesse texto, João Pinto da Silva considera Simões indiscutivelmente o mais fiel e o mais popular dos regionalistas gaúchos, a amado contador de histórias da gente sofrida e rude da campanha.

Cena 67 – Ressurgimento editorial

Imagens da segunda edição de Cancioneiro Guasca com a indicação do ano 1917

Loc.

Em vida, Simões não viu a reedição de um só dos seus livros.

Loc 2

A segunda edição do bem-sucedido Cancioneiro guasca só saiu em 1917.

Surgem agora letreiros com a frase citada e a indicação da autoria de Sílvio Echenique.

Loc.

Sílvio Echenique deu um longo depoimento sobre o escritor.

Loc 2

“João Simões não era levado muito a sério pelos seus conterrâneos. Havia tentado diversas ocupações e fracassara. Esse homem de sete instrumentos e volúvel como um cata-vento na busca de soluções para os problemas da vida rotineira, não obstante, sobreviveria à morte, adquirindo merecida fama a sua produção literária, graças a uma circunstância fortuita”.

Surgem agora na animação imagens das publicações das obras de Simões com indicação das datas citadas.

Loc.

Em 1925, a Editora Globo comprou os direitos de Contos gauchescos e de Lendas do Sul.

Em 1926, essas duas obras foram reunidas em um volume.

Loc 2

A terceira edição ampliada de Contos gauchescos e Lendas do Sul só apareceria em 1948.

Com essa edição, enriquecida por estudos de Aurélio Buarque de Holanda, começa o reconhecimento do valor da obra simoneana.

Loc

A primeira publicação importante a destacar o valor de Simões foi a Revista do Brasil, comandada por Lúcia Miguel-Pereira e Aurélio Buarque de Holanda.

Loc 2

Aurélio, o grande dicionarista, apaixonou-se pelos textos do contista pelotense.

Enquanto preparava a edição crítica, ele surpreendia seus amigos recitando trechos inteiros de alguns contos.

Cena 68 – O DESTINO DE DONA VELHA

Imagens voltam a mostrar Dona velha, agora já com idade avançada, solitária em sua casa.

Loc.

Dona Velha faleceu em janeiro de 1965, com 95 anos, pouco antes do centenário do nascimento de seu marido.

Loc 2

Ao longo dos cinquenta anos em que sobreviveu ao esposo, Dona Velha teve oportunidade de assistir à consagração dele como grande escritor.

Cena 69 – Consagração Artística

Animação apresenta uma imagem de Agripino Grieco com letreiros da frase citada sobrepostos.

Loc.

Um dos grandes críticos que mais exaltou o trabalho de Simões Lopes Neto foi o implacável Agripino Grieco.

Loc 2

“Toda a alma guasca está nesses contos, que valem por uma epopeia cíclica, antes contada que escrita, com um dom narrativo da mais tocante familiaridade. Os tipos, velhos e moços, brancos e negros, movem-se diante de nós com a desenvoltura da vida, com a caracterização inconfundível do real”.

Surge aqui a imagem de Augusto Meyer com a sobreposição de letreiros da frase citada.

Loc.

Mas o maior divulgador do escritor pelotense foi o gaúcho Augusto Meyer, que dirigiu por décadas o Instituto Nacional do Livro.

Loc 2

“Acho em Simões Lopes uma correspondência tão profunda, entre o homem e a obra, de tal maneira que se avantajam em credibilidade suas figuras, que intimamente o proponho candidato ao primeiro lugar na série de regionalistas brasileiros”.

Cena 70 – Casos do Romualdo

Animação apresenta uma reconstituição do episódio relatado.

Loc.

Carlos Reverbel, precursor do resgate e valorização do trabalho de Simões, foi quem datilografou as 21 crônicas do Romualdo e sugeriu sua publicação à Editora Globo.

Loc 2

Segundo Carlos Francisco Sica Diniz, foi Francisco de Paula Cardoso, um dedicado amigo de Simões, quem conduziu Carlos Reverbel ao local em que estava a coleção do Correio Mercantil com os Causos do Romualdo, assinados sob o pseudônimo João do Sul.

Loc

Francisco de Paula Cardoso, que reuniu documentos e recorte de jornais, foi o primeiro a se dedicar ao resgate da vida e da obra do escritor pelotense.

Loc2

Os originais de Causos do Romualdo ficaram por 16 anos com o escritor Pinto da Rocha, gaúcho residente no Rio de Janeiro, que tentou sem sucesso achar um editor na capital da República.

Loc

Primeira obra póstuma de Simões Lopes a ser impressa, Casos do Romualdo, só foi lançado em 1952.

Loc 2

O mentiroso Romualdo – espécie de Barão de Munchausen gaúcho – teve como modelo um grande contador de causos, integrante de uma conhecida família de políticos do Estado.

Loc

Romualdo de Abreu e Silva, amigo da família Simões Lopes, era um homem muito elegante, que se apresentava sempre de luvas e cartola.

Loc 2

Simões pediu licença às filhas de Romualdo antes de reproduzir-lhe os causos.

Loc

Agora, que estamos chegando ao final deste filme, é preciso examinar o papel desempenhado por João Simões Lopes Neto na Literatura brasileira. Que papel é esse?

Loc 2

João Simões Lopes Neto produziu em um período literário que é conhecido como pré-modernista, porque antecedeu a revolução estética que viria no começo dos anos 1920.

Loc

Muitos dos escritores que produziram sua obra nessa mesma época também são conhecidos como regionalistas. Escreviam histórias com forte acento regional, reproduzindo a vida e a linguagem dos que viviam longe das grandes cidades.

Loc

Os regionalistas mais conhecidos são os paulistas Monteiro Lobato e Valdomiro Silveira, o mineiro Afonso Arinos e o goiano Hugo de Carvalho Ramos.

Loc 2

Para muitos estudiosos, João Simões Lopes Neto é o maior escritor regionalista do Brasil. Sua obra teve influência sobre o homem que elevaria o regionalismo a outro patamar, o imenso João Guimarães Rosa.

O filme se encerra com um velho sentado ao redor de uma fogueira, cercado por crianças, contando uma história.

Loc

Vi a colméia e o curral; vi pomar e o rebanho; vi a seara e as manufaturas; vi a serra, os rios, a campina e as cidades; e dos rostos e das auroras, de pássaros e de crianças, dos sulcos do arado, das águas e de tudo, estes olhos, pobres olhos condenados à morte, ao desaparecimento, guardarão na retina até o último milésimo da luz, a impressão da visão sublime e consoladora; e o coração, quando faltar ao ritmo, arfará num último gesto para que a raça que está se formando, aquilate, ame e glorifique os lugares e os homens dos tempos heróicos, pela integração da Pátria comum, agora abençoada na paz.

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FIM