Quatro pedras e um Getúlio
Henrique Pires*
Se continuarem as homenagens metálicas para Getúlio Vargas em Pelotas e estas resultarem em mais furtos insolúveis, alguém poderá reunir as pedras onde as referências estavam e com elas montar um Stonehenge pelotense. Não será mais necessário ir a Salisbury, Inglaterra. Bastará visitar o círculo misterioso de pedras a ser montado com os escombros dos monumentos saqueados, que continham nossas homenagens.
Assim como Machu Picchu, Nazca, Ilha da Páscoa, aquelas pedras perto de Londres motivam milhares de turistas admirados, curiosos com os mistérios das civilizações antigas.
As nossas, uma vez agrupadas, serão inéditas: lembrarão o contrário: a falta de civilização.
Quem se dispuser a reunir nossos blocos de granito, terá que seguir um pequeno roteiro. Deverá buscar a pedra da Praça do Porto, onde havia um busto em bronze homenageando Getúlio. Dizem que o bloco adorna um pátio das imediações. Estava fincado na praça e alguém pensou: não deve ser de ninguém. E levou pra casa.
A outra pode ser recolhida na frente do Rex Hotel, onde ainda se pode ver um bloco pontudo com furos, antigo endereço da carta testamento -em bronze- furtada. A outra pedra, que suportava a cópia da carta surrupiada, também teve o texto em lata arrancado e está junto com outro bloco de granito vazio, defronte o Banco Itaú. Nesse último, estava a estátua que ficava no Porto e que para ali foi transferido. No porto, poderiam roubar…
Vou ficar só no Vargas. Não adentro a Avenida Bento Gonçalves, onde também alguns granitos ficaram órfãos. Lá talvez a avaliação precise ser mais profunda. O perigo é tanto, pelo que li no jornal, que o Fogo Simbólico vai crepitar dentro do Quartel da Brigada. Os granitos do altar da pátria, este ano, não acolherão a chama ardente. Vá que algum Prometeu esteja a solta por lá.
*Henrique Pires é jornalista e historiador.