Papai Noel, do sonho à realidade!
Neiff Satte Alam*
A cada segunda centenas de ‘Papais Noéis’ saem escondidos em direção às lojas para cumprirem o papel reservado à figura fantástica, que assombra o sono das crianças e o bolso dos pais. A fantasia centenária de um homem velho, barbudo, vestindo uma estranha roupa vermelha com peles brancas, dentro de um trenó puxado por renas, produz um efeito de incompreensíveis contradições, pois, em um país com um mês de dezembro encaixado em um verão que pode chegar a temperaturas de 40 graus, que somente conhece trenós por fotografia e que não possui renas, o que faz esta estranha figura ser tão popular? E que, para complicar mais o entendimento da situação, entra nas residências pela chaminé da lareira. Os nordestinos não devem entender nada; o pessoal lá da floresta Amazônica e do cerrado do Centro-oeste, muito menos.
Pois bem, a popularidade do ‘bom velhinho’ não está na roupa ou no seu estranho meio de transporte, mas no esforço sobre-humano dos adultos, pais, mães, amigos e até mesmo das crianças, em estender um pouco de afeto, através de presentes e/ou cartões àqueles que têm um significado importante para cada um de nós. O Papai Noel é a forma simbólica de manifestarmos a alegria de um renascer permanente quando reverenciamos o aniversariante do dia 25 de dezembro e lembramos, nem que seja por um dia, das lições deixadas por este espírito de luz.
Mas há um Papai Noel verdadeiro, de carne e osso, que usa roupas comuns, não anda de trenó e que, no calor do verão, desprende-se de sua rotina e sai à luta para poder cumprir com as promessas de presentear a todos, feita pelo Papai Noel imaginário e muito mais poderoso que ele, mais benevolente, mais alegre. Na maioria das vezes a tristeza ronda o Papai Noel de carne e osso, pois se vê impossibilitado de comprar um simples presente a seus filhos, que jamais entenderão a injustiça de terem menos que outras crianças quando, na verdade, são igualmente merecedoras do atendimento de seus pedidos, feitos por quem crê realmente na existência deste ser fantástico e mágico.
Na véspera do Natal, na noite de Natal e no dia de Natal uma impressionante mídia em todos os meios de comunicação cria a expectativa de um Natal diferente, onde todos serão felizes ao abrirem seus presentes; luzes coloridas e piscantes parecem iluminar todos os lares; famílias unidas pelo amor, fraternidade e absoluta fidelidade, trocam beijos e abraços enquanto comem, bebem e trocam presentes enrolados em papéis coloridos. Neste mesmo instante, na maioria dos lares brasileiros, o som dos sinos de Natal são substituídos pelo som surdo dos coraçõezinhos de crianças que não receberam a visita do ‘bom velhinho’; não existem luzes piscantes, mas apenas olhos cujo brilho se apaga um pouco pela decepção e frustração de uma mesa vazia e de presentes que não acontecem; os abraços e beijos entre pais e filhos não escondem as lágrimas que umedecem os olhos de todos, mas os coloca na verdadeira realidade e desmonta a fantasia, que era para ser gostosa, de mais um Papai Noel que morre no Natal.
*Biólogo, Professor de Biologia e Especialista em Informática na Educação. Participa do Treze Horas desde a sua criação, em 1978.