O LEGADO DE FRANCISCO: UMA IGREJA MAIS PRÓXIMA DO CAMINHO DE CRISTO
Jonatha Silva*
A morte do Papa Francisco, um dia após a Páscoa, pegou o mundo de surpresa. Ainda que o pontífice enfrentasse uma grave crise de saúde, sua melhora nos últimos dias – que lhe permitiu deixar o hospital – deu esperanças de recuperação ao argentino. Mas a segunda-feira (21) começou com o anúncio do Vaticano de que o Santo Padre havia voltado à casa do Pai.
Em um momento de enormes conflitos no mundo, em que a paz global parece cada vez mais distante da realidade, com pessoas cada vez mais individualistas e lideranças globais alimentando práticas que ampliam a concentração de renda e o aumento das desigualdades sociais, o legado de Francisco na condução do trono de São Pedro deverá servir de pilar para uma nova ordem global: política, financeira, ambiental e humana.
Quis o destino que Francisco, o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta, reordenasse o caminho da Igreja Católica e iniciasse o processo de reconduzi-la aos trilhos que Jesus Cristo determinou: ao lado dos pobres. Sua humildade e carisma trouxeram uma imagem mais leve e sorridente ao Vaticano.
Há um enorme desafio que a Igreja Católica enfrentará a partir de agora. O Colégio Cardinalício dará o recado sobre qual Igreja deseja para os próximos anos: se aquela liderada por Francisco nos últimos doze anos, com reformas que simbolizaram inclusão, respeito, amor, paz mundial e participação na vida cotidiana daqueles que mais precisam da intervenção católica; ou se o retorno às velhas tradições e aos ritos que, por séculos, conduziram a Igreja Católica a uma redoma que a afastou de suas bases e permitiu que novas e modernas organizações religiosas ocupassem – de formas pouco convencionais – o espaço deixado pelos católicos.
O desafio dos cardeais será escolher um líder que ocupará o trono de Pedro e manterá o legado de Francisco. Um caminho que não foi escolhido por Bergoglio, mas sim por Jesus Cristo. É tempo de andar com os pobres, de uma Igreja progressista e consciente de seu papel global.
É necessário que as reformas que simplificam a liturgia e a própria estrutura da Igreja sejam continuadas. Afinal, ritos são convenções humanas que em nada afastam Deus daqueles que não os seguem. Deus está em todos os lugares, no coração de cada um – em especial, daqueles que mais precisam Dele.
Francisco liderou um processo de abertura no Vaticano e enfrentou os diversos escândalos que permeiam a Cúria. Este é outro desafio do próximo papa: corrigir os erros humanos daqueles que conduzem a Igreja de Pedro.
Quem será o próximo papa? Só o conclave dirá. Mas o legado de Francisco certamente será um ponto de partida essencial. Recolocar a Igreja Católica em suas bases, ao lado dos pobres, participando da vida cotidiana das pessoas e levando a palavra de Cristo – com simplicidade e humanidade – é o compromisso.
*Jornalista