O gosto do Café
Henrique Pires*
Sei que mau gosto não se discute. Para uns, uma mesma intervenção é sinônimo de cafonice, para outros é simplesmente Kitsch, há até quem goste.
Só abordo essa arquitetura hostil inaugurada na esquina da Sete com XV de novembro por uma única razão: a intervenção foi no espaço público. Antes que alguém diga que a beira da vitrine é espaço privado, onde a ação pode ser feita, lembro que a presença de bancos fixos de engraxate na fachada da XV só pode ter sido feita mediante autorização do poder público, pois está no passeio.
Pode ser lida sim como ação antipobres, parafraseando o Padre Júlio Lancelotti, talvez o maior combatente contra essa corrente ideológica que, como praga, quer distância dos que vivem com pouco dinheiro.
Mas ali acho que o “ofendiculo” foi mais longe. Aquele espaço, onde as pessoas sentam – faz mais de oitenta anos – acolhe democraticamente todas as classes sociais. Basta olhar as fotos disponíveis na internet: identificamos desde anônimos bem humildes, até advogados, corretores de imóveis, de gado, bancários, comerciantes, médicos…
Sentar ali é parte do ato de frequência do Café.
Quem terá avaliado e autorizado essa modificação que, sem qualquer dúvida, afasta a população do espaço público e impede que um saudável hábito de oito décadas continue em Pelotas?
Seria interessante ler o parecer de quem permitiu tal obra. Sabe se lá se eu não pensaria diferente do que penso agora: foi uma intervenção agressiva e desnecessária. Uma simples e clássica grosseria.
*Henrique Pires é jornalista.