O G20 NO BRASIL FOI UM FIASCO
Paulo Gastal Neto*
Era de se esperar que a cúpula dos “Grupo dos Vinte”, um “clube” de cooperação internacional, que responde por 85% do PIB mundial e dois terços da população global, realizada no Brasil nos dias 18 e 19 de novembro, seria uma etapa contraproducente para o atual governo brasileiro e para o mundo.
Vivendo complicados problemas econômicos, o presidente Lula teve que tratar justamente sobre esta área, a econômica, e discutir iniciativas para promover melhorias nas políticas sociais nas nações que fazem parte do clube. Ora, se passa por dificuldades internas severas, como poderia ele repassar teses, diretrizes ou recursos fundamentados aos seus pares? Mas os problemas foram além das questões econômicas: a imensa desorganização e a sucessão de gafes contribuíram também para o fracassado do encontro.
As críticas começaram através da Bloomberg – principal canal de divulgação da economia mundial que cobria o evento – relatando a falta de uma sólida organização do G20. Disse a Bloomberg: este foi “o mais desorganizado evento em memória recente” e “provavelmente marcará o início de uma fase mais difícil do governo Lula”. Ainda: “Nesta semana, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, deveria consolidar seu status como o líder preeminente do mundo em desenvolvimento. Em vez disso, a caótica cúpula do G20 que ele sediou no Rio de Janeiro, destacou sua incapacidade de superar as crescentes divisões entre as superpotências globais. Gafes por parte do governo brasileiro prejudicaram as reuniões, que muitos classificaram como o G20 mais desorganizado da memória recente.
Mas não foi somente o fiasco promovido pelo governo brasileiro. A atuação da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, dentro e fora do governo, se tornou destaque aqui e no exterior. E essas tropeçadas e grosserias remontam ao início do governo de seu marido. Ela – que é socióloga – acumula gafes, polêmicas e controvérsias por suas falas e atitudes. Até mesmo os aliados do presidente têm reclamado do excesso de influência da primeira-dama em assuntos do governo e suas imensuráveis grosserias.
Durante o G20 não foi diferente: no sábado, 16.11, durante uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto, em um evento paralelo, Janja vociferou contra o bilionário Elon Musk. Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas. Então, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”. Cruzes, que nível.
Os observadores do Brasil podem agora lembrar o encontro como o início de uma fase muito mais difícil da presidência de Lula: Donald Trump está retornando à Casa Branca e prometendo abalar o comércio com a China, o maior parceiro econômico do Brasil, justamente quando os investidores estão cada vez mais preocupados com os gastos do governo brasileiro. No primeiro ano de seu governo houve um aumento da dívida brasileira de R$ 500 bi de reais, inflação aumentando, falta de política fiscal e monetária, o que é horrível para os menos favorecidos. E no momento em que seria questionado por esses dados, o presidente Lula cancelou sua entrevista coletiva de imprensa de encerramento da cúpula na tarde da última terça-feira, duas horas após o horário previsto para seu início. A justificativa oficial, era de que ele precisava voltar à Brasília para receber o presidente da China, Xi Jinping. A decisão só serviu para aumentar a sensação de caos que permeou o G20.
Mas teve mais: formou-se também uma desorganizada foto de família com a participação de cerca de 50 líderes e autoridades governamentais — exceto o presidente Joe Biden.
Por fim, as críticas à maneira autoritária de Lula conduzir a cúpula saíram do controle quando o presidente encerrou abruptamente as negociações sobre o comunicado do G20 na noite de segunda-feira, publicando o documento enquanto os líderes ainda discutiam ajustes na linguagem sobre a guerra da Rússia na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio.
Definitivamente o Rio se revelou em um péssimo ‘avant premiere’ da COP30, que acontecerá em Belém, em novembro de 2025. Lá – talvez – chegaremos ao ápice, pois faltam vagas em hotéis, carência no transporte público, limitações nas estruturas necessárias e a inexperiência em megaeventos. É o Brasil.
*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br