ARTIGO – O ECÓLOGO DE SI MESMO

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O ECÓLOGO DE SI MESMO

Paulo Gastal Neto*

O Treze Horas esteve na Rio-92 fazendo programas especiais de lá, no já longínquo 1992, no aterro do Flamengo. O governador do RS era Alceu Colares, que apoiou a missão gaúcha coordenada pelo Treze, que já pensava em meio ambiente. 20 anos depois retornamos na Rio+20, em junho de 2012, no Rio Centro, na Barra da Tijuca, para uma nova rodada de entrevistas sobre meio ambiente. Eram Conferências da ONU, com a presença de Chefes de Estado do mundo inteiro. Aquele encontro teve dois temas centrais: A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Nos vinte anos subsequentes a Rio-92, o assunto que tomou conta de todas as rodas seria o petróleo. Nela, os países desenvolvidos tinham elaborado novos processos e tecnologias para reduzir o uso de matéria-prima e energia em vários setores produtivos. Esses novos procedimentos e tecnologias não foram transferidos para as indústrias de países emergentes, como China ou Índia. O setor mais problemático continuava então a ser o de geração de energia.

O mundo continuava dependendo dos combustíveis fósseis, com 53% da energia proveniente de derivados do petróleo ou do gás natural e os outros 27% do carvão. A energia hidroelétrica representava apenas 2,3%, as energias solar e eólica, 0,8%. E, a conclusão que se chegou em 2012, foi a de que não teria como se alterar a matriz ‘petróleo’ nos próximos 50 anos, ou seja, até 2062. E aí entram uma série de itens em cadeia além da própria matriz: empregos, indústria, geração de energia para produção de alimentos, enfim um ‘mundo’ de sequenciamento que sobrevive em decorrência do petróleo.

Ali, naqueles encontros e momentos com os mais altos especialistas do mundo industrial e da preservação ambiental, ouviu-se uma expressão pela primeira vez: não somos ‘ecólogos de nós’ e sim de um conjunto de ações ambiental-econômicas! É a nossa sobrevivência. Não recordo de expressão mais procedente do que aquela, pois se não estamos sozinhos, sozinhos não vamos impor determinações e nem mesmo o que pensamos sobre meio ambiente para nós mesmos e sim para um conglomerado planetário.

Hoje estamos lendo que o governador Eduardo Leite Palestrou nos EUA, em painel na SXSW. A South by Southwest (SXSW), em Austin, no Texas, que é uma das maiores feiras do mundo em música, cinema e tecnologia. É descentralizada – ocorre em diversos espaços ao mesmo tempo, envolvendo toda a cidade no evento e o tema do governador gaúcho foi direcionado a falar sobre ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), esse conceito que domina os investimentos e que ganha espaço nas ações de governo, norteando os trabalhos de toda a sociedade voltados à sustentabilidade: melhor governança, inclusão e inserção de grupos na economia e, claro, o respeito ao meio ambiente, a sustentabilidade. Preciosa intervenção em fórum tão importante, como já foi a participação do nosso estado na COP-26.

Sabemos dos problemas, entendemo-los, mas sabemos que também, paralelamente, existem tantos outros mais graves em decorrência de uma possível inércia em relação as não ações do passado. Mas é aí que surgem os “ecólogos de si próprio”. Eles negam ações dos outros em favor do meio ambiente. Eles vivem invariavelmente em excelentes condomínios e desfrutam dos agradáveis espaços amparados em ótimas infra-estruturas.  Com água corrente, esgoto e todos os benefícios, que tanto ele quer para os outros, mas na hora da execução sempre é colocado um entrave. O “ecólogo de si mesmo” determina, expõe teses, discute e pouco executa, pois está assegurado pelas maravilhas do saneamento básico e geralmente com um belo contracheque. Ele ensina os outros e enfatiza que toda a ação do agente público é nefasta se não tiver o seu aval. Desconsidera deliberações de outros técnicos como ele, agride, enfim se tem na conta de perfeito. Talvez o “ecólogo de si mesmo” não saiba o que é ter problema gastro intestinal decorrente da água suja e fétida da frente das casas da periferia.

O “ecólogo de si mesmo” tem todas as soluções para todos os governos promover o saneamento básico, construir estações de tratamento de água e esgoto, manter árvores intocáveis, não permitir novas construções ou ocupações, enfim, ele tudo sabe, porém não diz como fazer e permanece atrelado a teses do passado. O “ecólogo de si mesmo” não tem respostas, pois ele quer apenas um lugar na galeria da fama, talvez uma cadeira no parlamento, enfim a sua pauta principal é norteada em si próprio.  É o famoso casuísta de ocasião.

Por outro lado, existem ambientalistas sérios e profissionais comprometidos com a sociedade e que se esmeram dia após dia nos inesgotáveis processos de licenciamentos que são necessários para contemporizar a preservação ambiental com a necessidade de crescimento e geração de empregos, para atender a maioria da população, gerar moradias, novas avenidas, condomínios, espaços públicos condizentes com o lazer e a preservação.

O que é necessário sim ao poder público, é que ele pregue e promova a preservação ambiental com as mitigações e que realmente se obtenha um adequando crescimento conciliado com a melhoria de vida das pessoas.

*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br