NOSSAS QUESTÕES DE DESENVOLVIMENTO, SUSTENTABILIDADE E CLIMA
Marcelo Dutra Silva*
Em algum momento vamos precisar enfrentar a realidade das nossas questões, nós e todos que compartilham viver aqui, nesta região fantástica, que apesar de estratégica, ainda não se descobriu para o desenvolvimento. Um debate profundo, que talvez se arraste por anos, na busca por pequenas e continuadas mudanças de comportamento, escolhas e práticas, firmadas entre as forças vivas e representadas por governos, de cada uma das partes. Um debate necessário, livre e aberto, que ainda não encontrou o espaço adequado para a sua realização, mas que vai acontecer, independente da clara desmobilização de determinados grupos e setores. Afinal, é o nosso futuro que está em jogo.
Não se pode negar que desenvolvimento sempre foi um tema presente, por aqui. Acompanho essa discussão há décadas e não saímos do lugar. Talvez por erro de estratégia, de sempre estar buscando modelos que deram certo em algum lugar, sem considerar nossas potencialidades como primeira opção; talvez porque a nossa falta de entendimento seja muito grande, nos impedindo de formar uma união de esforços em torno de um objetivo comum; talvez porque a maior parte do que é proposto não passe de discurso político, sem qualquer chance de ser incorporado como política pública de desenvolvimento regional, seja por falta de sustentação técnica e ou viabilidade executiva. Aliás, em nome do desenvolvimento já vi defesas horrorosas e ideias, ainda piores. Verdadeiras pérolas, vindas de pessoas despreparadas, sem qualquer afinidade com o tema, inseridas pelo arranjo político. Um desespero!
Gosto de acreditar que os erros fazem parte do nosso aprendizado e que estamos caminhando para o acerto. O que significa esperar, que nos próximos passos, vamos começar a entender que desenvolvimento é qualidade e não podemos confundir com quantidade. O mais não necessariamente é bom e nem sempre chega aonde está sendo mais necessário. Aí estás a tal da equidade. O acesso equitativo é um princípio básico do desenvolvimento, que deve ser garantido para todos que demandam necessidades no presente e para todos que irão demandar no futuro, para as próximas gerações. Portanto, não tem sentido discutir desenvolvimento se a sustentabilidade não estiver em perspectiva. E este é o ponto central do debate.
A sustentabilidade é um conceito de construção coletiva, baseado em princípios que alteram as atitudes individuais e o senso comum das escolhas. Mas esta é uma mudança de longo prazo, que vem sendo construída há décadas, “debaixo para cima” (bottom up) e talvez o tempo esteja acabando. A urgência que enfrentamos agora exige medidas combinadas de transformação social, que devem ser colocadas “decima para baixo” (Top down), no melhor sentido da expressão, ou seja, pela via das políticas públicas de estímulo à economia de baixo carbono, do consumo consciente dos recursos, inclusive das fontes renováveis de energia, manutenção das florestas, dos campos e das áreas úmidas, e inclusão do Environmental, Social, Governance (ESG) em todas as áreas e etapas do processo produtivo. Em tese, a nossa única saída.
Evidentemente, não há urgência maior que a crise climática. Vivemos uma ameaça global e o que fazemos aqui (ou deixamos de fazer) faz parte disso. Os efeitos já vêm sendo sentidos e a nossa região não está preparada. Não há um consenso sobre o que esperar e que medidas comuns podem ser tomadas para amenizar a intensidade das mudanças. Prevenir é melhor do que remediar, diz o ditado. Então, podemos começar por aí. Imagino… aqui, pensando com os meus botões, quem sabe um fórum regional permanente, para começarmos este debate e firmarmos os nossos primeiros compromissos de região, na forma de um bloco econômico e social, que despertou para as incertezas e que busca prosperidade no desenvolvimento com características de sustentabilidade.
*Prof. da FURG – Ecólogo | dutradasilva@terra.com.br