Mudando o foco para reduzir o dano
Neiff Satte Alam*
Observando as carências do/no sistema educacional, principalmente na Educação Básica, percebi que um dos entraves em melhorarmos o rendimento dos alunos em patamares aceitáveis e que nos remeta para caminhos de real crescimento é a mudança de foco.
O foco atual é a concentração dos esforços das Escolas em atuar nos efeitos danosos desta crise em que nos metemos, pois alunos de quinto, sexto e até anos mais adiantados, não têm completo seu processo de alfabetização e mesmo de um mínimo conhecimento das quatro operações matemáticas. Isto causa dificuldades quando chegam ao Ensino Médio.
No dia 06/02/2006 o Presidente da República sancionou a Lei no. 11.274 que regulamenta o ensino fundamental de 9 anos.
O foco deve ser nas causas que nos trouxeram até esta situação de falência de conhecimento no Ensino Fundamental.
Vou abordar um destes focos: “ a reforma do Ensino Fundamental em 2006, que implantou um novo ano, não a partir da oitava série, mas substituindo o pré-escolar B por um primeiro ano, isto é, a segunda série passou a ser primeiro ano e assim por diante até que a oitava série passou a ser o nono ano. A progressão ficou dividida em duas partes: um ciclo do primeiro ao terceiro ano e seriação do quarto ano em diante – fora as escolas que trabalham integralmente com uma progressão por ciclos.
Como há uma natural dificuldade para a média das crianças brasileiras em se alfabetizarem aos 6 anos de idade e até mesmo aos sete anos sendo, ainda, uma afirmação do próprio sistema oficial de que a idade certa para alfabetizar seria aos 8 anos, ficou difícil determinar que as crianças fossem avaliadas como com capacidade de leitura e conhecimento de números ao final do primeiro ano. A solução para este enredo foi determinar que até chegarem ao terceiro ano não pudessem ser reprovadas, isto é, funciona como um ciclo de três anos, a sequência segue em progressão seriada ano a ano. Como os professores de Escolas que tem progressão seriada não trabalham em ciclos, este ciclo único e inicial fica com rendimento comprometido, daí as consequências desastrosas enfrentadas por nossas escolas onde encontramos um número enorme de crianças que não sabem escrever e ler aos 9, 10 ou mais anos.
Segundo Piaget – e a maioria de outros teóricos também importantes, …”a idade ideal para iniciar a alfabetização seria a partir dos 6 anos de idade, que é quando a criança começa a desenvolver o raciocínio simbólico por sua inserção na linguagem”. Etapa Operacional concreta.
Este é o foco principal sobre o qual deve se debruçar nossos professores, pois corremos o risco de perdermos uma legião de jovens que não alcançarão o Ensino Médio e muito menos a Universidade. Isto não impede que empenhemos todos os esforços para recuperar os atuais alunos com estas deficiências de aprendizagem em um processo complementar para colocá-los em uma situação de igualdade, mesmo que com uma perda temporal inevitável.
Lamentamos, mas o que fizeram foi uma mistura de “gnu com jacaré” e nos cabe à missão de desatar este nó!
Meus colegas professores podem adicionar a esta análise outros nós a serem desatados.
*Biólogo, professor de Biologia e especialista em Informática na Educação. Participa do Treze Horas desde a sua criação, em 1978.
neiff.olavo@yahoo.com.br