ARTIGO: MINHA CONVERSA COM LUIS SIMÕES LOPES – “EU NÃO LEVO DESAFORO PARA CASA”

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Conversei e gravei oito horas de diálogos com o Dr. Luis Simões Lopes, simplesmente o fundador da FGV – Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Dr. Mozart Victor Russomano dizia: O Luizinho é o pelotense vivo mais importante que conheci.

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Por Clayton Rocha
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Possuo oito horas gravadas de conversas com o Dr. Luís Simões Lopes. Estas oito horas já foram transcritas para o papel e relembro, contém passagens memoráveis, inclusive depoimentos sobre a criação da FGV – Fundação Getúlio Vargas, o DASP – Departamento Autônomo do Serviço Publico, criação da ETP – hoje IFSul, enfim, oito horas de material histórico. Reservei esse trecho abaixo, alegre e curioso para este domingo.
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EU NÃO LEVAVA DESAFORO PARA CASA!
Eu era um jovem destemido
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Oswaldo Aranha, Luís Simões Lopes e Arthur de Souza Costa frequentavam o Salão Oval da Casa Branca nos tempos de Franklin Delano Roosevelt.
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O nosso Embaixador em Nova Delhi conhecia o episódio e deliciava-se com o histórico e divertido atrito entre o seu avô e Simões Lopes. Luís era muito novo, tinha vinte e poucos anos e não costumava levar desaforo para casa. Exemplar, detalhista, sempre pronto a buscar recursos federais para o Rio Grande e, muito especialmente, para a sua Cidade de Pelotas, ele ajudava o presidente a governar e era o primeiro a chegar e o último a sair do Palácio do Catete.
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Getúlio Vargas assinando documentos com Luiz Simões Lopes em pé e Oswaldo Aranha observando.

Vovô Oswaldo saboreava o poder e estreitava laços com os seus afetos, disse-me André Aranha Corrêa do Lago, o Embaixador do Brasil na Índia, durante nossa longa conversa telefônica. E tanto isso é verdade, lembra ele, que meu avô, íntimo de Roosevelt, costumava levar Simões Lopes e Souza Costa, dois pelotenses poderosos no Catete, ao Salão Oval da Casa Branca.

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Mas alguns anos antes disso tudo, o Catete viveu uma cena hilária e inesquecível aos envolvidos. Getúlio Dornelles Vargas determinara ao jovem Luís Simões Lopes: – Por favor, crie no curto prazo um órgão capaz de organizar o serviço público no Brasil. A missão foi cumprida de imediato, porém um ministro da casa, um dos íntimos do poder, e usando de deselegância, desencantou aquele jovem destemido que também reagia a desaforos!
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VÁ À MERDA, LUIZINHO!
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Ao receber a curta e seca Circular do jovem presidente do DASP, o recém criado Departamento Autônomo do Serviço Público, o então ministro da Fazenda Oswaldo Aranha reagiu de pronto: num canto da folha, e no próprio documento, escreveu: – Vá à merda Luizinho! Este, indignado, foi até Getúlio. O presidente, que fumava um charuto numa sacada do Catete, depois do almoço, ouviu o desabafo de seu braço direito. – Isso é grave, mas me responda: o senhor deve alguma subordinação ao ministro da Fazenda? – Não, claro que não, presidente. O DASP, que presido, é um órgão autônomo. Pois muito bem, disse-lhe Vargas. – O ministro Aranha o mandou à merda. E o senhor foi, doutor Luís?Não, evidente que não, presidente, retrucou no ato Simões Lopes. Pois bem, prosseguiu Vargas, se o ministro o mandou à merda, e se o senhor, independente que é, não foi, o problema está resolvido.
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A longa baforada que Vargas deu em seu charuto, instantes depois, jamais foi esquecida pelo sorridente Luís Simões Lopes.

A longa baforada que Vargas deu em seu charuto, instantes depois, jamais foi esquecida pelo sorridente Luís Simões Lopes, ( foto), agora presidente da FGV, a consagrada Fundação Getúlio Vargas. Esse diferenciado episódio, narrado a mim, ao Jairo Halpern e ao Luiz Carlos Wolhfeil Neto no Palacete da Gonçalves Chaves, numa conversa gravada nos anos 90, nos permite compreender – a valer – neste Século XXI, quão gigantesca era a força política e administrativa do Rio Grande do Sul na cena nacional, tendo por cenário o velho Palácio do Catete e aquele seu ” Salão Amarelo”, espaço preferido do filho de São Borja, um presidente que marcou fortemente uma época na história da República. (CR).

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