ARTIGO – “É O SAMBA DO MINISTÉRIO LOUCO”

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ARTIGO – “É O SAMBA DO MINISTÉRIO LOUCO”

Raul Ferreira*

Eu vou perder meus pudores e já pedindo desculpas aos amigos de todas as matizes políticas, de todas as cores, crenças e tendências que se distanciam entre extrema direita, direita, centro direita, centrão, centro esquerda, esquerda e extrema esquerda para emitir uma opinião que juro não ser uma devoção, nem comprometimento muito menos qualquer crença ou promessa de voto.

Estou falando do Sr. João Doria que desde o seu surgimento na vida política brasileira foi visto, inclusive muitas vezes por mim, com muita desconfiança pela imagem de um engomado marqueteiro saído da TV para ser prefeito e atualmente governador de São Paulo. Acontece que neste último ano de distanciamento e reclusão na vida de grande parte dos brasileiros venho colecionando tristes e dantescas imagens de políticos que usam o poder dando a mínima bola para a vida alheia. Sem ética, sem máscara e sem vergonha de insultar e incentivar a violência.

O resultado: Milhares de desempregados, crianças e estudantes fora de sala de aula,  sem acesso a tecnologia. Mulheres, donas de casa perderam o direito ao trabalho e não puderam comprar o pão de cada dia nem pagar transporte para procurar emprego. Não é à toa que já morreram mais de 250 mil pessoas e DEZ milhões de brasileiros foram contaminados pelo coronavírus.

Vi pessoas, grupos, entidades e participei de movimentos de solidariedade para as pessoas mais necessitadas. Foi comovente. Mas também vi outras pessoas trocando a marca de seus celulares por conta de terem irregularmente conseguido receber sem ética os 600 reais durante alguns meses. Revoltante. Desde março convivo com a imagem arrogante, maquiavélica, genocida e assassina do poder federal que até aqui apenas ignorou a extrema gravidade da realidade que vivemos e vamos continuar enfrentando.

Tudo isso me deixa muito descrente pela irresponsabilidade social de um País marcado pelas injustiças, preconceitos e um futuro incerto para a maioria da população. Mas cá pra nós. O Sr. Tarso Genro, ex-ministro da educação e governador do RS escreveu uma carta muito elegante pra ele, chamando a sua atenção para o que representava como condutor do maior e mais populoso estado brasileiro. Muitos políticos desapareceram neste período, onde os discursos, ditos como honestos foram esvaídos.

Hoje, venho humildemente reconhecer que apesar de fazer parte de um partido de traidores e de também ter tomado atitudes equivocadas, o Sr. “João Doria me representa.” Não, não tomei a CoronaVac que ele tanto insistiu enquanto virava chacota de todos aqueles segmentos da política. Mas vi que ele enfrentou a ignorância e o negacionismo com a bravura de um JK para levar adiante de forma solitária o desejo de trazer uma esperança para os brasileiros.

João, a sua imagem não está de acordo com um político que mesmo não sendo prioritário no seu próprio partido foi e inegavelmente é o único destaque no cenário político nacional que expressa o que eu penso. Doria ironiza o ministério da saúde.  “É o samba do ministério louco.” Me desculpe.

*Raul Rodrigues Ferreira nasceu em Pelotas. É formado jornalista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1982. Em 1982, começou a carreira na área de comunicação fazendo a divulgação dos eventos que ele mesmo produzia. Em três anos produziu dez peças de teatro. Durante oito anos, de 1986 a 1994 foi produtor executivo da TVE do Rio Grande do Sul.