ARTIGO – OBRIGADO SANDRO SOTTILI

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OBRIGADO SANDRO SOTTILI

Por Paulo Gastal Neto* 

Crônica escrita em 23.08.2009, após Pelotas 3×1 Riograndense-SM – Jogo da classificação do E. C. Pelotas à Primeira Divisão 2010 – Realizado em 19.08.2009, no Estádio Boca do Lobo

A Boca do Lobo enfeitou-se. As suas arquibancadas sabiam que o dia era de festa. Apesar de o céu ser azul e o sol amarelo, nasceu um dia cinzento que teve que ser colorido aqui em baixo pela nossa gente. Avisou-se aos quatro cantos que ninguém poderia ficar de fora. Seria o dia mais especial. Talvez merecesse um terno ou uma roupa nova. Dos mais de 100 anos de história, ele seria um dia para entrar nos momentos de louvação. Um daqueles para ficar imortalizado. E assim foi!

Surgiram instantes de emoções, lembranças e nostalgias, balanços, mas sobretudo tudo serviu para delinear um novo tempo. Não existe torcedor do Pelotas que, com a oportunidade de escolher uma sucessão de acontecimentos, optasse por algo diferente do que os daquela tarde. Mas tinha mais: um personagem com alma e devoção estava escolhido pelos deuses do futebol para receber a unanimidade dos pensamentos e selar uma união indevassável. Tinha que haver, naquele dia especial, um símbolo da unificação.

Havia a necessidade de se materializar os acontecimentos num único herói. Estou agora vendo e revendo aquele instante mágico de um corpo em harmonioso movimento com o tempo e com o espaço, disparando um petardo empurrado pelo pensamento único por mais de dez mil mentes em conjunto. E a bola, com a velocidade de um cometa, espantando a todos, tocando a rede com a fúria sadia envolta da energia dourada dos cabelos daquele “carrasco” das defesas. E, de repente, o sol surgiu por um instante só para quem estava no estádio e no mesmo segundo ouviu-se então uma explosão imensurável e indescritível. Descortinava-se a luz.

A chuva que caía misturava-se com as lágrimas que harmoniosamente pingavam dos olhos incrédulos de satisfação, molhando mais ainda o solo sagrado da Boca do Lobo. Ao fim todos pisavam na água da chuva e nas lágrimas espalhadas que se transformaram num líquido abençoado pelos céus. Estava tudo novamente como sempre foi. Obrigado Sandro Carlos Sotilli em nome de todos que lá estavam, dos que não foram e daqueles que não mais aqui estão e sempre aguardaram um segundo como aquele.

Fica leve, segue teu caminho encantando a todos com as tuas jogadas inesquecíveis fazendo dos sonhos a nossa realidade. Estás imortalizado na nossa alma como tantos outros. A fôrma dos teus pés deveria ficar sedimentada num espaço daquele nosso chão sagrado e teu nome afixado no bronze, numa parede da “tua casa” – a Boca do Lobo – de onde nunca mais sairás. Estarás assim cumprindo o teu papel para as gerações que nos sucederão. Obrigado Sandro Carlos Sotilli!

*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br