ARTIGO – COAM-SE MOSQUITOS, ENGOLEM-SE CAMELOS

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COAM-SE MOSQUITOS, ENGOLEM-SE CAMELOS

Por Ivon Carrico*

A imprensa amanheceu, hoje, surpreendida com a Decisão do Comandante do Exército que entendeu pelo arquivamento do Processo Disciplinar autuado em desfavor do General Pazuello por este ter comparecido a recente ato na companhia do Presidente da República.

Segundo a mídia a presença do citado General – militar da ativa, nesse evento – configuraria séria infração disciplinar por contrariar disposições do RDE/Regulamento Disciplinar do Exército que veda essa participação quando do manifesto caráter político-partidário existente.

Bem, sem querer justificar a atitude desse militar, aqui se identifica considerável preciosismo de opinião, além de inominável tendenciosidade da imprensa, senão vejamos.

Não vi esse frenesi jornalístico para evidenciar a presença despudorada de Parlamentares, encalacrados até o pescoço, na condução dos trabalhos da CPI.

Mas eles estão lá! Posando como as novas vestais da moralidade, ofendendo, insultando, constrangendo e, às vezes, até querendo inculpar testemunhas ao arrepio do devido processo legal.

Não vi, ainda, esse furor jornalístico quando Ministro/STF, recentemente, sequer se declarou impedido para julgar Processo em que é também acusado.

Esses mesmos críticos na imprensa se mantiveram, também, silentes quando outro Ministro/STF atuou, há poucos dias, em Processo em que o filho, Advogado, defendeu o acusado.

Nesse novo normal Ministros/STF patrocinaram, há tempos, familiares a elevados Cargos em Tribunal de Justiça. Mais uma vez, pouca ou quase nenhuma repercussão na mídia.

Aqui não se está a questionar a legalidade dessas condutas, pois existente, mas – sim – o caráter ético das mesmas.

Em qualquer procedimento administrativo observam-se a Razoabilidade e a Proporcionalidade.

Seria, então, a conduta do referido militar passível de maior recriminação do que as atitudes desses Parlamentares e Magistrados? Que merecesse reprimenda maior do que o possível dano?

Assim colocado está a imprensa a agir como os Fariseus que, ignorando a proporção, preocupavam-se com coisas insignificantes e se esqueciam das questões maiores que impulsionavam a hipocrisia, a desonestidade de propósitos e a ganância.

Por esta razão Cristo, àquela época, emendou: “Coam-se mosquitos, engolem-se camelos”.

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. (Brasília, 04/06/2021)