ARTIGO – APRENDENDO NAS FÉRIAS

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Aprendendo nas férias

Neiff Satte Alam*

“Pois estamos encantados de descobrir que a emoção, a paixão, o prazer, o desejo, a dor fazem parte do próprio processo de conhecimento e que as mais surpreendentes criações da arte, da ciência, do pensamento emanaram dessa máquina (referindo-se ao cérebro) repleta de antagonismos e de possibilidades de bloqueio e de erro.” Edgar Morin

Todas as Escolas entram em férias, mas os cérebros dos pequenos usuários destas instituições continuam a funcionar, somam ao que aprenderam as peraltices das brincadeiras descomprometidas e muitas vezes inconsequentes, mas que, ao final, resultam em um plus de aprendizagem que, não raras vezes, é superior ao desempenho escolar.

A razão disto talvez seja a liberdade que seus pequeninos cérebros passam a ter e a conexão instintiva do que aprenderam com a realidade somada a uma imaginação sem limites que resulta nas brincadeiras infantis e a inserção de tudo isto no contexto em que vivem. Na maioria das vezes, fixa o que aprendeu durante o ano letivo.  Daí a importância deste período, pois o cérebro necessita deste tempo e destas mudanças de rotina para se organizar, fixar o que lhe parece importante e deletar os excessos no armazenamento. Até esta atividade é fruto de um bom desempenho escolar, pois foi na Escola que foram ensinados os parâmetros necessários para estas atividades em época de recesso.

Quando outras áreas do cérebro são utilizadas e melhor exploradas, todo o cérebro sai ganhando, pois mantém todas as suas partes conectadas e em harmônico funcionamento. O resultado disto é uma reorganização e evolução cognitiva que servirá como base para as ‘batalhas’ do próximo ano letivo.

Nesta época de férias, não devemos esquecer que um reforço na leitura através de oferta de livros adequados à idade e adiantamento escolar será extremamente útil e servirá para ampliar os horizontes e preparar o terreno onde serão construídos novos conhecimentos.

É neste período de férias que pais e professores avaliam os seus comportamentos e ocorrências do ano letivo que se encerrou. Com estas avaliações, poderão melhor preparar a nova etapa, pois o aprendizado não se dá apenas com as crianças, mas também com os adultos responsáveis por sua educação.

Desta forma, entende-se que a educação não é uma responsabilidade isolada da Escola ou da família, mas uma parceria entre ambas, que somente terá sucesso se for construída sobre uma sólida base de entendimento e troca de informações reforçadas por um diálogo permanente e fortemente sustentado por argumentos embasados em uma pedagogia atualizada e contextualizada.

Muitos dos problemas de aprendizagem e que resultam em deficiências na educação de crianças e jovens, são um simples resultado da falta de integração entre a família e a Escola, mais por culpa da família do que da Escola, pois há uma tendência a jogar toda a responsabilidade da educação dos filhos em cima dos professores que, por não serem super-homens, mas apenas pessoas normais, necessitam do esforço conjunto com os pais para terem sucesso na complexa missão de ensinar. Deixemos as crianças brincarem, mas nós temos que levar a sério nossas responsabilidades. Enquanto elas brincam, nós revisamos conceitos, trocamos idéias, estudamos e nos preparamos para torná-las adultos responsáveis e cidadãos éticos.

*Professor e integrante da Equipe Treze Horas