A Triste Realidade das Estradas Gaúchas e a Nossa Passividade
Marco Jacobsen*
Nos últimos anos, tenho viajado frequentemente para Brasília, São Paulo, mas principalmente para o interior do nosso querido Rio Grande do Sul. Assim como muitos de vocês, sou testemunha da baixa qualidade das nossas estradas, e da qualidade apenas mediana das poucas estradas pedagiadas. Essa situação vem se arrastando por anos, ou melhor, por décadas, independentemente das cores partidárias que regem nosso governo.
Este ano, enfrentamos uma tragédia climática que devastou nosso estado, atingindo as principais regiões de geração de riqueza e PIB. Nossa infraestrutura rodoviária, já debilitada, sofreu ainda mais danos. Estradas que já eram precárias agora se encontram com a sinalização comprometida, pontes destruídas e, em alguns casos, o próprio traçado da estrada simplesmente desapareceu.
No entanto, minha indignação não se limita aos impactos imediatos dessa tragédia, mas a três fatores que considero chocantes enquanto cidadão.
O primeiro é a demora das concessionárias de rodovias em reestruturar e normalizar as estradas, especialmente as BRs 386 e 287, que são vitais para conectar as produções do interior com a capital e os pontos de exportação. Compreendo a burocracia envolvida em projetos de engenharia, mas não entendo a falta de percepção dessas empresas quanto aos prejuízos que essa morosidade traz para todos.
Meu segundo ponto é a total inação do governo federal em proporcionar o socorro financeiro necessário, e a absoluta timidez do governo estadual em articular e lutar por esses recursos tão importantes para a reconstrução. O que se vê é apenas a criação de frentes, secretarias e cargos, mas pouca ação efetiva.
E o terceiro, e mais grave ponto, é a passividade de pessoas, empresas, organizações, e especialmente dos políticos, diante da situação das estradas. Não consigo entender por que não houve protestos, passeatas, ou qualquer ato para mostrar nossa extrema indignação com as condições das rodovias. Quando me diziam que o brasileiro é anestesiado, eu duvidava. Mas, diante do cenário atual, estou começando a concordar com isso. É triste, e demonstra um lento processo de regressão civilizatória.
Este texto é um chamado à ação, uma reflexão sobre o que estamos aceitando como normal. Não podemos continuar indiferentes enquanto nossa infraestrutura e, consequentemente, nossa economia, se desintegra diante de nossos olhos. Precisamos agir, cobrar, e lutar por um futuro melhor para o nosso estado e para o nosso país.
*Administrador, Historiador e Relações Governamentais.