A DEMOCRACIA DO AUTORITARISMO
Por Paulo Gastal Neto
Vivemos um tipo novo de democracia e tomara que seja apenas um período de transição. Ele é diferente daquele que aprendemos a superar, a ferro e fogo, com os tempos obscuros do jogo político dos anos 70, 80. Hoje é necessário malícia e um certo grau até de maldade para entender as nuances do ir e vir dos movimentos internos dos partidos políticos. Parece que esquecemos que, nos processos democráticos, a vida deles é – tão ou mais intensa – do que o momento da disputa eleitoral, onde entra o eleitor, que daquela não participa.
A máxima de Ulysses Guimarães: “de que a política é como uma nuvem: ela altera seu formato a cada instante” nunca esteve tão presente, porém não é compreendida por aqueles que a fazem no dia-a-dia em nossa cidade e em todo o lugar. Ao simples sinal de um revés interno soprepõe-se a ele os âmagos pessoais de cada um. Demissões, ações judiciais, revoltas, cartas abertas a população, enfim uma série de explicações dos derrotados – democraticamente no voto – explicando atitudes intempestivas ao invés de assumir o resultado dos desígnios partidários. Não existirá nunca democracia forte sem partido sólido. Perdeu: caiu fora. Perdeu: vou à justiça. Perdeu: me demito. Perdeu: faço carta a comunidade e estou liberado. Não! Não é assim! Não funciona dessa maneira!
Na antiga Grécia e também em Roma, dava-se o nome de partido a um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa. É assim aqui? Sabem os eleitos ou que exercem cargos públicos sobre isso? Posteriormente na democracia inglesa do século XVIII, se começou a criar instituições de direito privado com o objetivo de congregar partidários de uma ideia política: enfim o partido como temos hoje – Parte!
Lógico que a ideia de organizar e dividir os políticos em partidos se alastrou pelo mundo a partir da segunda metade do século XVIII, e, sobretudo, depois da revolução francesa e a independência dos Estados Unidos. Até porque, a partir daí, a própria percepção da natureza da comunidade política se transforma dramaticamente. Fomos parar em um estágio de que nas sólidas democracias, os políticos têm feito a sua carreira política dentro de um médio ou grande partido, para só depois se candidatarem a altos cargos públicos, como primeiro ministro ou presidente. O mesmo vale para as instâncias regionais e municipais, como governadores e prefeitos e porque não parlamentares de boa atuação e visibilidade.
Mas aqui, em Pelotas, neste período pré-eleitoral parece que nada vale do histórico da construção mundial das democracias ocidentais. Será que estamos tentando criar uma democracia híbrida? Autoritária? Não passará!
Aqui está na moda: faz-se parte de um partido até o momento em que ‘ele me serviu’! Até o instante em que ele me deu glórias e vitórias. Até o tempo em que fiz parte de poder! Até aí estou nesse partido de maneira imorredoura e incontestável! O defendo com unhas e dentes. Mas, porém, todavia, entretanto se algo não sair como ‘eu’ quero, o abandono, o denigro, o vilipendio, o execro e sigo minha vida em busca de um novo espaço onde terei as benesses do poder da qual não consigo me privar!
Atenção: Nas democracias o cargo não é propriedade do jovem bom de Instagram, da menina excelente em Twitter, do cargo em confiança bom de Facebook ou do publicitário bom em tudo! A prefeitura não é propriedade de grupo ‘a’, ‘b’, ou ‘c,…..ou ‘d’, ‘e’, ‘f’…! As pessoas que habitam a urbe definem o gestor! Não há propriedade e bem público que não seja do povo! Não há apropriação!
Atenção gente: Na nossa democracia brasileira, amparada na nossa constituição, promulgada pelo Deputado Ulysses Guimarães em 1988, (que vimos lá em cima e encerraremos com ele) todos tem o direito de fazer parte de partidos políticos! E os integrantes dos partidos políticos, possuem o direito de participar: do debate interno, da postulação à candidatura à cargo eletivo, a votar e ser votado, a fazer parte de governo ou administração convergente – e: ganhar ou perder internamente. E mais: Os partidos políticos possuem o direito de oferecer sua postulação ao crivo do eleitor. Ahhh…E mais: ACEITAR O RESULTADO!
Se você não lembra, e você que viveu com verba representativa de cargo em comissão, relembrar não é tardio: Democracia representativa é o exercício do poder político pela população eleitoral feita de maneira indireta, mas através de seus representantes, por si designados, com mandato para atuar em seu nome e por sua autoridade, isto é, legitimados pela soberania popular.
Finalizo, de novo, com uma frase do insuperável Ulysses Guimarães, um dos maiores defensores da democracia no Brasil e que é muito apropriada para o momento que começaremos a viver em Pelotas: “É claro que a política não é o ofício da bagatela, a pragmática da ninharia. Quem cuida de coisas pequenas, acaba anão.”