A BACIA DE PELOTAS E A PETROBRAS: O INVESTIMENTO VIRÁ OU NÃO?
Marcelo de Oliveira Passos*
Guilherme Afonso Ferreira é um dos maiores investidores e filantropos do país. Ele faz parte do Conselho Consultivo da Sitawi, que é uma organização que desde 2008 atua para mobilizar capital voltado à geração de impacto socioambiental relevante e positivo. Ele é formado em engenharia de produção pela USP e pós-graduado em economia pelo Macalester College. De 2007 a 2020, foi sócio e chairman da Teorema Capital. Desde 2020 é sócio e Senior Advisor da MOS Capital.
Além deste vistoso currículo, Ferreira fez parte do Conselho de Administração da Petrobras e acompanhou momentos críticos da estatal. Em entrevista recente concedida ao canal da AGF no Youtube, afirmou que a companhia não tem muita saída para enfrentar o avanço da produção mundial de automóveis elétricos: ela terá que a acelerar investimentos na descoberta e exploração de novas reservas. A demanda mundial por petróleo cairá lentamente, segundo ele. E a partir de 2040 as petrolíferas enfrentarão reduções significativas dos seus índices de lucratividade (e consequentemente dos retornos dos seus acionistas).
Ferreira afirmou na entrevista que o tempo médio de esgotamento do potencial extrativo de uma plataforma de petróleo é de 15 ou 16 anos. Portanto, um simples cálculo aritmético permite deduzir que é necessário encontrar petróleo agora. Este petróleo descoberto começará a ser explorado após a construção das plataformas marítimas. O tempo para construi-las leva, em média, 4 ou 5 anos (isto é, pode ser concluído em 2029 ou 2030). Se isto for feito, a Petrobras poderá explorá-las por 10 ou 11 anos, até 2040. Com isto, o investimento se pagará e ela ainda poderá lucrar por mais 4 ou 5 anos (completando aquele ciclo de 15 ou 16 anos, até mais ou menos 2045 ou 2046).
Mas o que isto impacta na exploração da Bacia de Pelotas? É bom lembrar que ela foi leiloada em dezembro de 2023 pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Este leilão atraiu grandes petroleiras internacionais, com a Petrobras adquirindo 29 blocos na região junto com dois consórcios: um com a Shell e a CNOOC, e outro só com a Shell.
Bem, a Shell é uma companhia que todos nós conhecemos, não é mesmo? Há postos dela por todo o país. Mas quem é esta menos conhecida CNOOC? Ela é a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC): uma empresa petrolífera economia mista (capital privado e estatal, como a Petrobras) e que possui ações na Bolsa de Valores de Hong Kong (Hong Kong Stock Exchange). Seu acionista majoritário é o próprio governo da China, que detém o controle de 70% da CNOOC. Trata-se da maior empresa de exploração petrolífera offshore da China, com cerca de 80% dos lucros dela originados dessa exploração petrolífera em alto mar.
Portanto, o investimento na bacia de Pelotas interessa a três das maiores empresas petrolíferas de países localizados em três continentes: Petrobras (Brasil/América do Sul), Shell (Reino Unido/Europa) e CNOOC (China/Ásia). Estamos falando de um investimento que interessa diretamente a três dos maiores PIBs do mundo: o segundo (China), ao sexto (Reino Unido) e ao oitavo (Brasil). Percebem a importância do investimento? Além disso, como vimos, estas três petrolíferas estão correndo contra o relógio para realizar o investimento a tempo de ele se pagar e gerar lucros consideráveis até (e após) o crítico ano de 2040. Nesse sentido, a possibilidade de a Petrobras investir na bacia de Pelotas não somente é real, mas existe uma questão de urgência envolvida.
Outro ponto: a promissora reserva de gás e petróleo da bacia da costa do Amapá também desperta muito interesse da indústria de petróleo.Todavia, a exploração nesta região, embora conte com a simpatia do Poder Executivo e do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, está cercada de aspectos econômicos e ambientais mais complexos do que os envolvidos na bacia de Pelotas. Este é outro ponto favorável à exploração no extremo-sul do país.
Em suma, temos três fatores favoráveis à exploração na nossa bacia: (1) o tempo corre a nosso favor; (2) os interesses de três grandes empresas de três grandes países também; e (3) não há tanto risco de impactos ambientais relevantes como há na bacia da costa do Amapá.
Porém, os políticos do Amapá já estão muito mobilizados no lobby para viabilizar o investimento por lá. E os políticos gaúchos, sobretudo os de Pelotas, Rio Grande e região? Estão mobilizados? Conhecem estas vantagens? Saberão extrair o máximo de benefícios sócio-econômicos deste futuro investimento?
*Marcelo de Oliveira Passos – Professor e pesquisador do mestrado e doutorado em Economia da UFPEL (PPGOM/UFPEL) – Pós-doutorado no Research Unit on Complexity and Economics do ISEG/Universidade de Lisboa.