Um rebelde milionário .
Henrique Pires*
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Tremendamente populares no Sul do Estado, os combatentes revolucionários Honório Lemes e Zeca Neto, veteranos generais assisistas na Revolução de 23, também haviam sido jovens combatentes na sangrenta Revolução de 1893, cujo acordo de paz foi assinado na Rua XV de Novembro, em Pelotas, há exatos 130 anos. Honório, passada a revolução de 1923, recebia tratamento de pop star onde fosse no Rio Grande do Sul. Foi das figuras populares mais festejadas e respeitadas.
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E não são poucas as narrativas nos jornais de época e nos livros sobre o assunto, os quais destacam a verdadeira massa popular que se mobilizava para saudá-lo nas localidades onde surgia. Pouco letrado, homem de hábitos muito simples, era um tropeiro pobre, dono de uma pequena propriedade rural. Mas, inteligente como poucos, como combatente militar e estrategista se agigantava. Tinha luzes de gênio.
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Possivelmente, por causa dele, muitos acreditavam que Zeca Neto – seu colega de armas que conquistou Pelotas montado a cavalo aos 72 anos de idade – também fosse “um velho tropeiro de barbas brancas”.
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Era mais do que isso.
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Alguns até sabiam que ele tinha algumas posses, inclusive no Uruguai. Poucos sabiam que ele era um rebelde milionário.
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Quando encilhou seu cavalo em Camaquã e foi à luta em 1923 contra as poderosas forças de Borges de Medeiros, era proprietário da produtiva fazenda dos Galpões. Com 12,5 quadras de sesmaria (algo em torno de 1.100 hectares), lá cultivava arroz, com várias parcerias. De lá também saiam grandes quantidades de erva mate, que havia nativa nos matos e eram cultivadas em áreas próximas que lhe pertenciam. A alta produtividade devia-se ao bom sistema de parcerias agrícolas que mantinha.
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Na Fazenda da Coxilha, Zeca Neto era dono de 4.300 hectares de campo. Também era o “feliz proprietário” da Invernada da Barra Grande, essa com mais de 1.200 hectares plantados de arroz e com criações de gado. Sua morada mesmo era na Granja Neto. Essa propriedade, com 4 mil hectares, com suas lavouras de arroz, também era o lugar principal onde criava gado Hereford e fazia cruzamentos empregando gado Zebu. Os ovinos, Merino Australiano e os da raça Lincoln – as lanudas e grandes ovelhas britânicas – também pastavam predominantemente por lá.
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Pra atender tanto campo, a cavalhada tinha que ser de primeira e Zeca Neto caprichava nos cruzamentos Anglo-Árabes, como o garboso pingo no qual aparece montado nas fotos da tomada de Pelotas.
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Foram dois grandes generais gaúchos do século passado. Um, muito pobre. Outro, surpreendentemente rico.
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Ambos valentes e destemidos.
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*Henrique Pires é jornalista e historiador.
