Um passeio com o Luis Fernando Lessa Freitas
Jairo Halpern*
Num fim de outono de mil novecentos e noventa, um grupo de viajantes fazia um passeio por alguns países da Europa.
Dentre eles, estávamos eu, o Clayton e o Freitas.
Chegamos por Paris, e depois de alguns dias caminhando muito na cidade que estava se preparando para o inverno, havia um calor próprio da cidade por sua história e cultura.
O Freitas, como não seria diferente, e não foi mesmo, percorria as ruas, as largas avenidas, as vielas, enfim, os lugares do turismo típico da velha cidade, as aulas ao ar livre de história, eram o prato predileto dele, com peculiaridades que todos nós sequer sabíamos.
Sempre com detalhes, ironia, emoção e uma boa risada,normalmente entrecortadas por baforadas do seu inseparável cachimbo.
E assim iniciou o passeio na velha Europa.
Eu, um neófito em viagens internacionais e, pela primeira vez, no velho continente. Por gostar de história, estava em casa, o que escrevo aqui, sem a menor pretensão de inflar meu ego ou de provocar desconfianças quando lido o texto por quem me conhece ou quem sabe lá quem eu seja, o que, também, não é relevante ao texto.
Relevância, isso sim, foi a enorme satisfação que me perpassava ao estar viajando com alguns parceiros e com o Freitas, que seria o “meu professor ambulante”, rápido em oferecer as respostas de que eu precisava.
A viagem seguiu, o Freitas e eu nos aproximamos, e o conhecia através do Clayton e de meu pai, passando, a partir dessa viagem, a conviver mais proximamente com ele e assim foi até o dia de sua partida para um lugar que não conhecemos.
Mas foi em Londres, cidade que não conhecia, o momento da minha alegria maior quando, pela manhã, o Freitas me procurou no pequeno e simples hotel na Belgrave Street, e me convidou, à pé, a percorrer a cidade.
A aula foi completa, teve a satisfação de me descrever a cidade, o cantos, os lugares e os museus que pude com ele conhecer, eu, nos meus vinte e sete anos.
Detalhes da história da Inglaterra e da cidade londrina. Naquele dia, ao que me relembro, o Freitas, num tom meio jocoso, disse-me: “olha veu velho-assim chamava os que dele eram mais próximos, e eu passei a ser– ela vai cair” e eu, sem saber, perguntei à ele, enquanto a caminhada seguia pelas ruas de Londres, quem vai cair? A Dama de Ferro, Margareth Tatcher!
E nesse dia caiu mesmo a primeira-ministra.
Não passava nenhuma desinformação por ele. Nesse período não tínhamos as facilidades da web, mas o Freitas passava os olhos nos jornais locais e acompanhava o desfecho do período Tatcher.
A seu modo, deu uma cutucada no histórico da conservadora Tatchere, também recordo, quando me disse: ela pensava ser um Churchil, mas o velho do charuto era incomparável com avidez política nos arranjos e rearranjos que fazia na política inglesa e da Europa.
E prosseguíamos na nossa longa caminhada.
Histórias da monarquia inglesa bordavam esse passeio pela Londres. Num certo momento me convidou para sentarmos num pub de rua, quando pedimos duas cervejas e, ao mesmo tempo, parou para reorganizar seu cachimbo, seguindo a fumá-lo no bar, pois não havia qualquer restrição naquela época.
Voltamos à caminhada até ir ao hotel para o encontro com os demais parceiros, já que havíamos programado uma janta “coletiva”.
Todavia, antes de chegarmos ao hotel, mais uma vez, sarcasticamente, disse-me: fugimos deles hoje!
Ri muito, mas nada comentei.
Bem, aqui um relato das melhores lembranças que tive nessa viagem com o Freitas, o Claytone demais parceiros.
Ao fim, não esqueço do último dia, ou melhor, da última e derradeira noite que antecedeu na madrugada seguinte, com sua prematura morte.
Estávamos,eu e ele, num clube social da cidade, numa festa de entrega de reconhecimento de nomes da cidade e da região proporcionada pelo Clayton e o 13 HORAS, naquele momento na rua, próximos à entrada do salão, conversando à toa, quando me despedi dele.
Na madrugada seguinte ele veio a falecer, achando eu, que ter sido um dos últimos amigos a conversar com o Freitas. Fui avisado, ainda na madrugada, pelo seu neto, o Gabriel, que era meu aluno, de sua morte.
Freitas, saudades tuas. Recebe, aí de cima, meu carinhoso abraço.
Jairo