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ENTREVISTA DO JORNALISTA RAUL FERREIRA AO TREZE HORAS – Podcast
PELOTAS FERVE À NOITE
Por Raul Ferreira*
Em Pelotas, na terra de Solon Silva que não sai de casa desde março do ano passado, não tem Covid-19 que deixe os festeiros em casa. Quem passeia de carro pela pelas ruas e avenidas vê a olho nu as aglomerações por toda a cidade. Elas são contempladas com a maioria das pessoas sem o uso de máscaras. Logo elas podem levar para dentro de casa aquelas histórias que você ouve falar na vizinhança e as cenas inventadas pelos telejornais.
Nos postos de vacinações o movimento foi mínimo. Das 19 mil doses de vacinas, mais de 10 mil “estão sobrando”. Apenas 48% das doses disponíveis foram aplicadas. (Números do painel do Governo RS). Só 20 mil pessoas se contaminaram e 347 pessoas morreram, até agora. Mas a população é de 300 mil habitantes. As festas “nem são clandestinas”. Elas estão à vista de todos, quando muito atrás de muros, vidros, ou nas esquinas. A polícia, a brigada militar, não. Ninguém chamou, nem fez qualquer ocorrência.
A vigilância sanitária que segundo a lei 8080/90 do SUS tem o poder de polícia, mas não vai trabalhar nesta hora. São excelentes servidores públicos que fazem vigilância no comércio que muitas vezes atende de portas fechadas com “splits ligados”. São autoridades que atuam em defesa da saúde e da qualidade de vida da população. Se preocupam muito com os comerciários que quase não adoeceram neste período pandêmico.
Mas em Pelotas tudo é diferente. Segundo informações estampadas nas redes sociais, neste sábado (06.02.2021) a “irmã (com menos de 60 anos) de um vereador” do município foi beneficiada no IFSUL com a primeira dose da CoronaVac. Fui informado que a denúncia foi encaminhada ao MP – ministério público. Neste caso o fato poderá ter alguma consequência. Também, jovens estagiários de técnico de enfermagem que pediam contribuição para a formatura de ensino médio na avenida Bento Gonçalves me afirmaram que “todos” foram beneficiados com a imunização. Enquanto isso profissionais enfermeiros diplomados com menos de 60 ficaram a deriva, “barrados no baile”, assim como os profissionais do Laboratório União, que fazem um serviço público de interesse comunitário há anos na cidade.
Você pretende tomar a vacina? Pra quê? Em Pelotas os números provam tecnicamente e a informação, o planejamento e o futuro da sua vida não são importantes para o poder público municipal, para os vereadores, para os empresários e até para a população.
Afinal, o intenso movimento noturno mostra claramente que aqui a economia está bombando e não precisamos usar todos os imunizantes guardados nos freezers para voltar a vida normal. Vida normal? Imagina. O vírus com a cepa que atinge a Amazônia nunca virá pra cá!
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*Raul Rodrigues Ferreira nasceu em Pelotas. É formado jornalista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1982. Em 1982, começou a carreira na área de comunicação fazendo a divulgação dos eventos que ele mesmo produzia. Em três anos produziu dez peças de teatro. Durante oito anos, de 1986 a 1994 foi produtor executivo da TVE do Rio Grande do Sul.
A partir 1994 desempenhou a função de editor-chefe de vários programas da RBS TV, afiliada à Globo em Porto Alegre. Primeiro atuou no Jornal da RBS, em seguida no Conversas Cruzadas. No programa Teledomingo, ficou por doze anos na função. Coordenou o Jornal do Almoço do RS.
Vencedor de pelo menos três prêmios ARI de Jornalismo e outros cinco da RBS (New Kids, sobre Ronaldinho Gaúcho; Um Dia de Glória, sobre conquista da América pelo Inter de Porto Alegre, em 2006; Camarote programa inovador; e Relação Comunitária, com a reportagem Estúdio de Vidro – JA 40 Anos).