ARTIGO – OS GALOPES DE GARIBALDI

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Os galopes de Garibaldi
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Henrique Pires*
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São encantadoras as tropilhas que podemos assistir, fazendo manobras coreográficas nos festivais folclóricos da Argentina, indo até lá ou nos vídeos que nos mostram sempre um adestrado e parelho conjunto de animais, de mesma pelagem, correndo juntos e seguindo um gaúcho montado sobre um dos cavalos do grupamento. É uma bela tradição que um dia já foi nossa, hoje cultivada e felizmente preservada por nossos hermanos argentinos.
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Giuseppe Garibaldi a descreveu quando narrou sua jornada do Uruguai até a cidade de Piratini, para unir-se ao Exército Farroupilha, acampado por lá, naqueles tempos. Fez muitas e detalhadas anotações, que viraram livro – best seller – na Europa, já em 1860, antes da unificação italiana, quando as compartilhou com o escritor Alexandre Dumas, que  organizou e redigiu o livro de memórias sobre as peripécias do aventureiro nascido em Nice. Dumas já era uma tremenda celebridade literária naqueles tempos. Vinha colhendo verbas e louros por obras como “O Conde de Monte Cristo”, “Os Três Mosqueteiros” e “O Homem da Máscara de Ferro”, dentre outros. Com as “Memórias de Garibaldi” não foi diferente.
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Assim está descrito:
“Viajamos a escoteira. Darei uma pequena explicação… sejam dois, três ou quatro viajantes, vão acompanhados por vinte cavalos habituados a seguir os que vão montados; quando depois algum cavaleiro vê que seu cavalo está fatigado, apeia-se, passa o selim e os arreios para um que vem livre e segue a galope por três ou quatro léguas; depois toma outro e assim sucessivamente os vai mudando até chegar ao seu destino. Os cavalos cansados, mesmo tendo que seguir os outros, recuperam forças, porque vão livres do selim e do cavaleiro”.
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Depois de chegar a Piratini, Garibaldi anotou “acompanhei a coluna até Canudos (hoje Santa Isabel), passagem do Canal São Gonçalo, que liga as Lagoas dos Patos a Mirim”. Depois, ele refez o caminho de volta a então capital riograndense.
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Por onde se ia de Piratini até o pequeno porto de Santa Isabel? Atravessando o Passo da Orqueta ou o Passo Novo e seguindo o velho corredor das tropas que hoje é estrada estadual.
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Na época, havia poucas casas onde hoje é Pedro Osório e Cerrito, mas não há dúvidas de que por ali também galopou Giuseppe Garibaldi, o herói dos dois mundos, líder da unificação italiana, em exemplo do que faria anos mais tarde nas pradarias da Sicília do Gattopardo.
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*Henrique Pires é jornalista e historiador.