ARTIGO – NOTÍCIA BOA OU RUIM? O PIB DE 2024 EM FOCO

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Notícia boa ou ruim? O PIB de 2024 em foco

Vinícius Machado Ferreira*

Existem duas formas de analisar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre de 2024, divulgado na sexta-feira, dia 07.03, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por um lado, o resultado é positivo: a economia brasileira cresceu 3,4% em 2024 em comparação com o ano anterior, alcançando 11,7 trilhões de reais. Isso significa que o Brasil produziu mais bens e serviços em 2024 do que em 2023.

Por outro lado, o crescimento não foi tão bom quanto esperado. Embora o PIB tenha crescido no ano, no último trimestre (4T24) ele subiu apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior, bem abaixo da expectativa do mercado, que era de 0,5%. Além disso, o crescimento do trimestre anterior (3T24) foi revisto para baixo, caindo de 0,9% para 0,7%.

Para entender melhor o que aconteceu, vamos dar uma olhada nos dados do IBGE. Diferentes setores da economia tiveram desempenhos bem distintos. O setor de serviços, por exemplo, cresceu 3,7%, enquanto a indústria teve um crescimento de 3,3%. Já o setor agropecuário, que geralmente ajuda a impulsionar o crescimento, teve uma queda de 3,2% devido à seca que afetou as lavouras no ano passado.

Dentro do setor de serviços, algumas áreas se destacaram. “Outras atividades”; cresceram 5,3%, e o comércio teve um aumento de 3,8%. Na indústria, a “indústria de transformação” avançou 3,8%. Estes três setores: outros serviços, comércio e indústria, foram responsáveis por metade do crescimento do PIB em 2024.

Esse ponto é importante: o crescimento foi grande, mas muito concentrado em poucos setores. Isso significa que, embora o PIB tenha aumentado, não foi uma melhoria generalizada em toda a economia. Alguns podem ver isso como bom ou ruim, mas vamos falar mais sobre isso no final.

Além disso, na indústria, o setor da construção se destacou, com um crescimento de 4,3%. Isso aconteceu por causa de três fatores: aumento na ocupação, crescimento na produção de materiais e a expansão do crédito.

Outro dado importante é o aumento de 4,8% nas despesas de consumo das famílias em 2024. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que esse crescimento foi impulsionado por uma combinação de fatores: os programas de transferência de renda do governo, a melhoria no mercado de trabalho e os juros mais baixos do que no ano anterior.

O que esperar daqui para frente? A desaceleração do crescimento no quarto trimestre de 2024 e a revisão para baixo do crescimento no terceiro trimestre indicam que a economia pode começar a desacelerar. Além disso, a alta dos juros pode dificultar o crédito e diminuir os investimentos, o que afetaria áreas como a construção civil, que teve bom desempenho no último ano.

Outro ponto a se considerar é o mercado externo. Em 2024, os exportadores brasileiros se beneficiaram do crescimento da economia dos Estados Unidos e da desvalorização do real em relação ao dólar. Embora o dólar ainda esteja forte, uma possível mudança nas tarifas comerciais dos EUA pode prejudicar as exportações e desacelerar a economia.

Por fim, é importante lembrar que as expectativas do mercado indicam que os juros podem subir ainda mais em 2025, o que poderia impactar o crescimento da economia. No entanto, é cedo para saber como isso afetará o cenário. Agora, a grande pergunta: o que devemos pensar sobre isso?

O crescimento do PIB de 2024 foi bom, mas ele não foi perfeito. Alguns economistas podem achar que o crescimento foi “de má qualidade”, já que dependeu muito de programas do governo e do aumento do crédito, que podem não ser sustentáveis no futuro, especialmente com os juros altos. Mas, na prática, as pessoas tendem a focar no que realmente afeta seu dia a dia. Para o consumidor que comprou um produto ou para o trabalhador que encontrou um emprego melhor, o que importa é que a economia melhorou, independentemente de como isso aconteceu. O crescimento de 2024 foi positivo, mas pode ser que a economia desacelere em 2025. Porém, isso não muda o fato de que muitos trabalhadores e empresários já viram melhorias no último ano. Para essas pessoas, o crescimento da economia importa mais do que as análises sobre sua sustentabilidade.

*Especialista em Investimentos e Private Banking; Sócio e Assessor da Marco Investimentos XP; Colaborador do Treze Horas para a editoria de economia.