ARTIGO – NÃO ESQUEÇA DOS POBRES!

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Não esqueça dos pobres!

Ramacés Hartwig*

Esta frase, dita pelo Cardeal Hummes (Franciscano brasileiro) ao Cardeal Bergoglio (Jesuíta argentino) quando este foi eleito o 266º Papa, fez com que o novo pontífice adotasse o nome de FRANCISCO. Só pela escolha deste nome já se poderia perscrutar o caminho bíblico, a senda teológica e a práxis evangélica através das quais o Papa Francisco iria registrar na História (Eclasiástica, Humana e Universal) seu testemunho cristão, humanitário e pontifício no seguimento de Jesus (começado no dia 13/03/2013 e encerrado hoje). Merece especial atenção a expressão POBRES porque, na prática de Jesus e na compreensão evangélica do Reinado de Deus (expresso, particularmente, nas Bem-Aventuranças cf. Mt 5,1-11), não se trata apenas de pessoas despossuídas de bens, destituídas de humanidade, privadas de serviços públicos ou marginalizadas social-política-economicamente. POBRES são tudo isso e muito mais, ou seja, SÃO PESSOAS QUE SE RECONHECEM finitas e dependentes da Misericórdia de Deus, Quem, por Sua vez, as torna bondosas, justas e plenamente humanas fazendo-as colocarem-se à serviço da “Vida abundante” (cf. Jo 10,10) com alegria, justiça e paz para todas as pessoas em todos os cantos do mundo.

Coube ao Cardeal Carmelengo Farrell nos dar a triste notícia de que hoje, na Casa de Santa Marta, fez sua Páscoa o primeiro papa jesuíta, o primeiro papa das Américas e o primeiro papa não europeu (em mais de 1200 anos).

O Cardeal Bergoglio ao ser perguntado se aceitava a eleição papal, respondeu: Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência Deus, no sofrimento, aceito ! Coube ao então Cardeal Carmelengo Tauran anunciar ao mundo: Habemus papam! O novel Papa, ao aparecer na sacada da Basílica de São Pedro, vestindo uma simples batina branca, em poucas palavras e em meio à orações disse: …e agora iniciamos este caminho, Bispo e Povo…um caminho de fraternidade, de Amor, de confiança entre nós… Rezemos sempre uns pelos outros… e agora quero dar a bênção, mas antes peço-vos para que rezeis ao Senhor para que me abençoe; é a oração do Povo pedindo a bênção para o seu Bispo”. E finalizou este memorável momento com sua primeira bênção Urbi et Orbi (para a cidade (de Roma) e para o mundo; para todo o universo).

O lema de seu pontificado: miserando atqve eligendo ! Olhando-o com misericórdia, o elegeu/escolheu (foi retirado da homilia de São Beda no comentário do texto de São Mateus 9,9) significando que Deus O elegeu (pelos votos dos cardeais) e O escolheu (por ação do Espírito Santo) para exercer o Ministério Episcopal como o Sumo Pontífice (Santo Padre) da Igreja Católica Apostólica Romana. No legado pontifício de Francisco constam: – 4 Encíclicas (Luz da Fé/Lumen fidei – Laudato si/Louvado seja – Fratelli tutti/Todos irmãos – Dilexit nos/Amou-nos); – 3 Exortações Apostólicas (Evangelli gaudium/Alegria do Evangelho – Amoris laetitia/Alegria do Amor – Gaudete et exsultate/Alegrai-vos e exultai), várias Cartas Apostólicas, documentos de Motu próprio (de próprio punho), inúmeros discursos com frases contundentes, além da criação de 39 cardeais (sendo um brasileiro).
Entre suas muitas frases lapidares quero destacar uma com a qual me identifico por causa de sua dimensão ecumênica e sua abrangência inter-religiosa: Quem é da luz não mostra a sua religião e sim o seu Amor! São conhecidas suas atitudes (apesar de Francisco não querer e até proibir a divulgação) e repetidos seus gestos de compaixão, zelo e carinho para com as pessoas idosas, doentes, moradoras de rua ou albergadas não só em Roma mas, em suas outras e tantas viagens pastorais pelo mundo.

Digno de nota é que o retorno de Francisco à Casa do Pai aconteceu exatamente no contexto das celebrações da Semana Santa e da Páscoa do Cordeiro de Deus. Este fato também renova em nossas vidas a certeza da Ressurreição de Jesus testificando definitivamente que a Verdade vence a mentira; que o Amor vence o ódio e que, acima de tudo, a VIDA vence a morte. Estes acontecimentos extraordinários nos ajudam a manter a Fé, cultivar a Esperança e a colocar em prática o Amor de Deus no dia-a-dia de todas as pessoas (cfe. I Co 13,13).

Em seu testamento Francisco deixou registrado: “O sofrimento que esteve presente na parte final da minha vida, ofereci ao Senhor pela Paz no mundo e pela Fraternidade entre os povos!”. Ele também revelou que deseja ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore (onde costumava frequentar para orar antes e depois de suas viagens), em túmulo simples e lápide comum apenas constando seu nome papal: Franciscus.

*Ramacés Hartwig – Reverendo Anglicano e integrante da Equipe Treze Horas – Páscoa – Rancho Queimado (SC), 21/04/2025,aD.