Governabilidade em xeque: os desafios de 2025
Marco Antonio Jacobsen*
Este final de semana terminei a leitura do excelente resumo da Infomoney, intitulado de Barómetro do Poder, disponível no site deles, e me ousei a tecer algumas análises fria das coisas.
À medida que o governo federal se aproxima de 2025, o cenário político brasileiro apresenta desafios claros, conforme revelado pelo Barômetro do Poder de novembro de 2024, um estudo realizado com os mais atuantes analistas políticos e consultores de relações governamentais. E o destaque foi para a governabilidade que segue como um ponto crítico, com números que acendem sinais de alerta.
Na Câmara dos Deputados, o governo conta com apenas 203 parlamentares alinhados, enquanto 162 permanecem como independentes ou incertos, e uma oposição consolidada de 148 membros. Essa configuração exige habilidade política para conquistar os votos necessários em pautas relevantes, considerando que, na prática, dependerá de uma maioria flutuante.
No Senado, a situação é ainda mais delicada. Com 35 senadores alinhados, 20 incertos e 26 na oposição, a margem de manobra do governo é estreita. Nesse contexto, o Palácio do Planalto enfrentará dificuldades para aprovar medidas estruturais e poderá ser forçado a revisitar as práticas de negociação política que marcaram o início deste mandato.
Um tema particularmente sensível é o arcabouço fiscal. De acordo com a pesquisa, 47% dos especialistas acreditam que a probabilidade de mudanças no marco fiscal durante o governo Lula é baixa, enquanto 29% veem chances altas e 24% apostam em uma probabilidade regular. Esses números refletem uma expectativa de estabilidade formal na regra, mas não necessariamente na execução, especialmente considerando as crescentes pressões por aumento de despesas em ano pré-eleitoral.
Eleições municipais: um novo mapa de forças
Outro dado relevante da análise é o saldo das eleições municipais de 2024, que redesenhou o tabuleiro político nacional. O centrão emerge como grande vitorioso, com uma nota média de 4,69 em uma escala de 1 a 5. Entre os partidos, destaque para o PSD, que obteve 4,81, seguido pelo MDB (4,44). Ambos consolidaram posições estratégicas, mostrando força eleitoral em diversas regiões do país.
O PL, com nota 3,88, teve desempenho razoável, mas aquém das expectativas, considerando seu protagonismo na oposição ao governo. Já o PT, com nota 2,19, confirmou sua retração eleitoral, indicando dificuldades para mobilizar sua base histórica. Por fim, o PSDB amarga o pior desempenho, com 1,31, confirmando a fragilidade de sua reconstrução partidária.
Os dados expõem uma realidade que desafia a governabilidade e o planejamento estratégico do governo federal. Mais do que nunca, 2025 será um ano que demandará articulação política robusta, pactos consistentes e, acima de tudo, habilidade para navegar em águas tão instáveis quanto o cenário legislativo e eleitoral que se desenha.
Os próximos meses dirão se o governo será capaz de reverter ou mitigar essas tendências. Por ora, o que temos é um Congresso fragmentado, um cenário fiscal delicado e a consolidação de forças regionais que moldarão o debate político e econômico nos anos vindouros.
*Administrador, Historiador e Relações Governamentais.