A VOLTA DO ARBÍTRIO
Paulo Gastal Neto*
Não poderia ser mais emblemática a data de hoje: 31 de março, o aniversário do golpe militar de 1964, marca também o retorno do autoritarismo e do arbítrio ao Brasil.
Há poucas semanas assistimos estupefatos a censura ao Telegram e hoje o retorno da arbitrariedade vem de outra forma: a ameaça de proibição – vinda da mesma fonte – de proibir um deputado federal de se manifestar publicamente e inclusive conceder entrevistas.
O ministro do STF Alexandre de Moraes constrange a suprema corte. O silêncio de seus pares, em decorrência de suas pessoais decisões, está sendo motivo de recuo dos ministros em opinar, sobre outros temas até, como vinha acontecendo a todo o momento em todos os telejornais e publicações impressas.
Com exceção de Moraes e Rosa Weber – que ontem tomou decisão absolutamente esdrúxula de negar o pedido da PGR – Procuradoria Geral da República – para arquivar inquérito que investiga se o presidente da república cometeu crime de prevaricação no caso da vacina Covaxin, os outros ministros se recolheram. É notório.
Levanto aqui a expressão histórica atribuída ao poeta alemão Bertolt Brecht: “Que tempos são esses em que temos que defender o óbvio?”. Essa pergunta, do século retrasado, não poderia ser mais atual. Em um mundo que já vivenciou tantos horrores, seria de se esperar que conquistas civilizatórias elementares não pudessem mais sofrer ameaças, mas estão: seja na guerra lá na Ucrânia ou na arbitrariedade que volta a se instalar com o patrocínio de quem nos deveria salvaguardar na última instância.
*Radialista e editor do www.pelotas13horas.com.br