ARTIGO – A VERGONHOSA VACINAÇÃO EM PELOTAS

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ARTIGO – A VERGONHOSA VACINAÇÃO EM PELOTAS

Paulo Gastal Neto*

A nossa cidade se superou em matéria de como não agir em relação ao processo de vacinação das pessoas que estão na linha frente de trabalho e para com os idosos com mais de 85 anos. Lá atrás, foi um equívoco o primeiro dia de vacinação para esse grupo, abalando o processo por uma absoluta falta de agilidade e gestão de eficiência. A organização para a vacinação dos idosos com mais de 85 anos, na quarta-feira, 10.02, foi mal feita. A chuva colaborou para aumentar ainda mais a dor dos velhos em filas intermináveis, aglomerações sem explicação na frente das UBSs e um vai e vem de um posto para outro sem poder resolver o simples ato de vacinação. A comprovação do erro foi a ação imediata da prefeita Paula, que se deu conta dos equívocos iniciais e ela própria foi para linha de frente da organização do processo numa flagrante desautorização da secretária que, lamentavelmente, errou. O município tem ainda que cobrar agilidade do estado e que, por sua vez, tem que cobrar da união para mais vacinas. Urgente!

Mas, se tivéssemos um dia de sol, de verão, naquele dia 10, com temperaturas elevadas a sorte dos idosos seria ainda pior. Iriam fritar com o sol na cabeça, pois não há velho de 85 anos que resista temperaturas elevadas e em pé. As autoridades devem saber que a lógica de uma pessoa de 85 anos é diferente de um jovem. O ato de locomoção dele requer uma previsão de roteiro, de tempo de permanência na rua e de resolução de seu problema de maneira quase que imediata. Qualquer alteração poderá causar de um pequeno dissabor a um desmaio ou até mesmo uma emergência de saúde.

Pelotas possui ginásios de esportes que estavam fechados. Qualquer adolescente do ensino médio sabia que se esses espaços fossem abertos para as vacinações seriam muito mais condizente para um atendimento mais confortável. É simples demais. Mas não foram! Os idosos ficariam sentados nas arquibancadas aguardando um chamado. Mas não vem somente de hoje o problema: há ‘fura fila’ em Pelotas. É só ver nas redes sociais. Para piorar criou-se o excludente instrumento de Drive Thru, elitista, que só serve para quem está motorizado. As pessoas tem que ‘receber a vacina’ e não ir atrás dela! Recentemente testemunhas observaram no Campus da IFSUL, na rua Gonçalves Chaves, dezenas de jovens com pouco mais de 18 anos em fila de vacinação em detrimento de pessoas com necessidade absoluta por uma dose. Há imagens. Jovens de todas as matizes se vacinam em detrimento dos mais velhos. Esses jovens não estão na linha de frente na luta contra o vírus. Postam suas fotos com largos sorrisos de satisfação pessoal e esquecem que a vacinação só será eficiente se a maioria se imunizar. Os mais velhos, que representam 70% das mortes são prioridade absoluta. É uma vergonha a vacinação em Pelotas com a complacência e o absoluto silêncio da autoridade municipal de saúde! Vacinação não é um ato social para sorrisos largos, é uma luta contra a chaga.

Outro fato relevante: Pelotas não foi ágil na vacinação. Doses estiveram paradas, estocadas por dois dias. Segunda-feira e terça-feira de carnaval não houve vacinação em decorrência do feriado. Pergunto: Que carnaval? Porque parar dois dias? Qual o propósito desta parada em meio a uma guerra contra uma pandemia? Força tarefa! Já ouviram falar em força tarefa? Retomar os trabalhos de vacinação somente na quarta-feira de cinzas? Porque não ganhamos tempo e agilizamos mais vacinas para mais pessoas, se essas vacinais estão aí no armário refrigerado da secretaria? Qual a explicação razoável para parar o processo por dois dias? Porque não demos um exemplo em capitanear um processo de mutirão durante todos os dias de carnaval mostrando para todo o país uma eficiência e boa vontade? A resposta é simples: não há eficiência nem boa vontade.

Pelotas precisa urgentemente de um secretário (a) de saúde que seja reconhecido nas ruas, que esteja nos postos de saúde acompanhando as dores da cidade, que leve à população uma palavra de apoio, que esteja em absoluta sintonia com a comunidade médica e seja aplaudido (a) por onde passar. Estou envergonhado pelo que tenho visto nas redes sociais, nos postos de vacinação e com as pessoas que estão gerindo esse processo.

*Radialista e Editor do Site do Pelotas Treze Horas