ARTIGO – A MISÉRIA INTELECTUAL

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“Assim, como na Economia o mercado se equaliza mediante a oferta e a procura, creio que essa equação – na informação – pode ser obtida com melhores e maiores investimentos em educação. Como fizeram o Japão e a Coreia do Sul, no pós guerra. Daí o sucesso desses países.”

A MISÉRIA INTELECTUAL

Ivon Csrrico*

Tenho assistido perplexo à profusão, cada vez maior, do tal ‘Digital Influencer’ nas mídias eletrônicas.

Conteúdos extremamente pobres, pouco inteligentes, desprovidos de qualquer consistência – na maioria dos casos até rudimentares em suas assertivas – vêm sendo expostos diuturnamente nas redes sociais.

Mas, a perplexidade mesmo fica por conta do sucesso obtido por essa turma, como provam os milhões de seguidores. O que isso significa para a sociedade e, mesmo para o País? Em quais segmentos e estratos sociais estão esses Influenciadores e seus parceiros?

Vejam bem: não estou aqui a demonizar a democratização da informação com o advento da Internet. Ela é bem vinda. Porque acima de tudo permite e, em tempo real, o amplo controle social. Principalmente de Políticas Públicas empreendidas, as vezes, por Governos inescrupulosos. Mas, essa informação precisa ter qualidade.

O uso inadequado dessas novas funcionalidades pode produzir, assim, um efeito social devastador. Porque aliena e idiotiza o cidadão. Lembram do Umberto Eco?

Tampouco, preconizo um controle estatal sobre esses conteúdos. Isso seria pior, pois é inadmissível a censura. Ainda mais em Regimes política e socialmente instáveis. Como aqueles, digamos, ao Sul do Equador!

Assim, como na Economia o mercado se equaliza mediante a oferta e a procura, creio que essa equação – na informação – pode ser obtida com melhores e maiores investimentos em educação. Como fizeram o Japão e a Coreia do Sul, no pós guerra. Daí o sucesso desses países.

A comprovar essa miséria intelectual temos o pouco interesse das novas gerações no debate. E, principalmente, nos assuntos que impactam a vida nacional. Em São Paulo – por exemplo, recentemente – somente 12% dos jovens em idade mínima, obtiveram o Título Eleitoral.

Já, no último ENEM, somente 22 pessoas, dos 2 milhões de inscritos, obtiveram a nota máxima em redação.

Taí, o reflexo perverso de políticas públicas onde a educação vem sendo escamoteada, neste País, há décadas. O resultado é essa pobreza intelectual. (Ivon Carrico)

*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 12/04/2022