ARTIGO – A CALÇA VELHA, AZUL E DESBOTADA

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A CALÇA VELHA, AZUL E DESBOTADA
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Ivon Carrico*
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O pós-guerra e a nova ordem política e econômica estabelecida dividiu o mundo, colocando em lados opostos sistemas e nações poderosas. Por isso a criação de Blocos econômicos e Pactos militares.
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Daí que, também, os maus resultados obtidos – decorrentes da sucessão de conflitos ocorridos  – definiram o cenário para a desilusão e a desconfiança de governos e instituições.
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Ao mesmo tempo, Pensadores se destacavam no sentido da possível superação dessa insatisfação. Como o Filósofo alemão Herbert Marcuse para quem o homem, dominado pela tecnologia, era apenas conformista, consumista e acrítico.
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Ora, estava – então – dada a largada para esse embate quando emerge, assim – na década de 1960, nos Estados Unidos – um movimento libertário de contestação a tudo isso: a ‘Contracultura’.
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No Brasil, como reflexo, surgiram – também – diversos movimentos na década de 1970. Todos  sugeriam uma visão crítica da situação política e social do País. E, clamavam por mudanças.
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Mas, por aqui, como afirmava estrondoso sucesso comercial de 1976, a liberdade chegou até a ser enaltecida como uma calça velha, azul e desbotada.
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Contudo, em 08 de agosto de 1977, nas Arcadas do Largo de São Francisco, na famosa Faculdade de Direito de São Paulo, o Professor Goffredo Telles mais do que ampliou esse conceito de liberdade.
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Por meio da sua famosa ‘Carta aos Brasileiros’, conclamou a Nação a construir um País mais participativo, mais justo por meio do amplo exercício da Democracia.
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Todavia, decorridos 45 anos dessa ousada manifestação e, após o ocaso do Regime Militar, em 1985, e o estabelecimento do Estado Democrático de Direito pela CF/1988, tenho que ainda estamos longe de viver a plenitude democrática, pois continuamos a experimentar o Patrimonialismo. Como nos tempos do Império e da Velha República.
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A concessão de privilégios descabidos a setores e corporações da sociedade e do Estado, em detrimento de outros segmentos, têm contribuído para essa distorção e para a  imensa injustiça estabelecida.
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Tomara que as Cartas que, hoje, serão lidas em comemoração à efeméride do Professor Goffredo não sejam só mais uma calça velha, azul e desbotada.
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*Ivon Carrico é pelotense, mora em Brasília, atuando na administração há quase 50 anos. Atuou na ANVISA e na Presidência da República. Brasília: 11/08/2022
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