
SHANÁ TOVÁ
Paulo Gastal Neto*
Shaná Tová quer dizer ‘bom ano’ em hebraico. Estamos no período do Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, que marca uma das datas mais importantes de seu calendário. Todos nós temos amigos judeus e sabemos bem como são ligados na família, nas tradições, na religiosidade, no bom relacionamento, na boa mesa e tantas outras coisas que nos são simpáticas e similares, pois assim fomos educados e criados por nossos pais, avós, tios e professores. O Rosh Hashaná é uma festa em família e está para os judeus como o Natal e Ano Novo para os brasileiros ou o Dia de Ação e Graças para os Norte Americanos. E é justamente neste período, que Israel está sofrendo ataques. Há um ano, também nesta época de ano novo e de comemorações, o país foi vitimado por um sórdido atentado que violou a racionalidade humana. Até hoje reféns estão sob a mira de terroristas. Israel é a única democracia no região do Oriente Médio e não há a necessidade de ser exímio ou mediano conhecedor da história antiga para saber sobre a Eretz Yisrael. Basta ter assistido alguns filmes – existem centenas deles – sobre a Segunda Guerra Mundial, para se ter um critério humanitário mínimo e entender que Israel ainda é credor e não devedor, mesmo que tenham recebido a compaixão da humanidade racional após a guerra, em 1945. Tudo isso ainda é pouco pelo que passou o seu povo.
Preservar a memória e a história são pilares da continuidade da humanidade. Alia-se a isso a força psicológica responsável pela identidade das etnias e das nações. Se não fosse assim, estaríamos impossibilitados de chegar em um ponto de convergência, onde a diplomacia, a democracia, a justiça e a civilidade devem se sobrepor a irracionalidade. São valores morais que nos distanciam da barbárie, diferente de alguns que, em pleno Século XXI, subjugam mulheres, fazem crianças de escudo humano e atentam contra vidas inocentes, sem o menor senso de moral e ética humanitária. Também não podemos esquecer o sofrimento imensurável pelo qual passaram milhões de judeus e àqueles que os defenderam, como os russos, norte-americanos, ingleses e até brasileiros, durante a II Guerra Mundial.
O estado de Israel foi criado em 14 de maio de 1948, por intermédio da Organização das Nações Unidas. O pós guerra, naquele período, fez o mundo civilizado acolher Israel e assim o faz até os dias de hoje, ou pelo menos deveria. Naquela época houve um empenho comum para o desenvolvimento de uma nova ordem civilizatória, necessária. Até é bom recordar que existia, naquele contexto, um gaúcho do Alegrete: Oswaldo Aranha, o brasileiro que ajudou a criá-lo e que hoje dá nome a uma das principais avenidas de Porto Alegre e que corta justamente o bairro Bom Fim, reduto de expoentes da comunidade judaica na capital do RS. Também há ruas com o nome de Aranha em Tel-Aviv, Bersebá e Ramat Gan, em Israel. E uma Praça Oswaldo Aranha em Jerusalém. As homenagens se justificam principalmente pela atuação do brasileiro para a aprovação da chamada Resolução 181, que lançou as bases para a criação de Israel. É ou não é uma ligação histórica e forte?
Mas vamos além: vamos falar da contribuição de Israel para o mundo ocidental, para o mundo livre e democrático atualmente. É lá que surgem as principais inovações nas áreas de tecnologia da informação, saúde, energia, transporte e agricultura. Por exemplo, Israel foi pioneiro na IA – inteligência artificial e tem um grande número de startups de tecnologia de ponta, que são disponibilizadas. Em saúde, Israel é responsável por grandes avanços na medicina e vem sendo pioneiro na criação de novas terapias e medicamentos, sobretudo contra as doenças mais graves. São pesquisas avançadíssimas. É possível que uma tia ou avó sua ou de um amigo, tenha se livrado do câncer com drogas ou tratamentos descobertos por cientistas israelenses. Mas se por um desígnio triste o câncer é terminal, a morfina que aplaca a dor vêm de Israel. Sua mãe ou até você mesmo tenha feito um exame de imagem em algum equipamento da indústria tecnológica de Israel e você nem sabe. Recentemente em Tel Aviv foi desenvolvido um aparelho que pode fazer sete diferentes tipos de exames médicos e divulgar o resultado, de forma instantânea, para qualquer parte do mundo através de telefonia celular. E mais: estes equipamentos podem até ter sido doados por israelenses, para um hospital perto de sua residência. A placa solar que seu irmão ou primo colocou no sítio, que faz o valor da conta de luz reduzir, seguramente é uma arte tecnológica de algum cientista israelense. Além disso, Israel é decisivo nas novas tecnologias nuclear e hidrelétrica.
Prossigamos: Israel disponibiliza através das mais diversas relações comerciais e institucionais, inclusive com o Brasil, pesquisas desenvolvidas por cientistas israelenses, novos conceitos para a agricultura, ciências da computação, eletrônica, genética, medicina, ótica e vários campos da engenharia em todo o mundo. Israel é o lar de grandes empreendedores da indústria de alta tecnologia e tem uma das populações mais instruídas do mundo. Tel Aviv é uma das cidades mais influentes, tecnologicamente falando, do planeta. Através de uma democracia sólida, com uma constituição que proporciona segurança jurídica para investidores e direitos aos cidadãos que acolhe, o país se diferencia pela sua pluralidade e liberdade. O Aeroporto Internacional Ben-Gurion (Primeiro Ministro na época da criação de Israel), em Tel Aviv, é uma porta de entrada para todas as etnias do oriente médio. O país compra do Brasil petróleo, óleo de minerais betuminosos, carne bovina, soja, milho e café que somam quase meio bilhão de dólares somente nesses itens.
Vamos em frente: Israel tem sete cidadãos que já receberam o Prêmio Nobel em áreas científicas, sendo que dois deles nasceram em outros países e migraram para o país: Daniel Kahneman: Economia, 2002; Avram Hershko: Química, 2004; Aaron Ciechanover: Química, 2004; Robert Aumann: Economia, 2005; Ada E. Yonath: Química, 2009; Dan Shechtman: Química, 2011; Arieh Warshel: Química, 2013.
É tão difícil perceber que após o genocídio sofrido durante a II Guerra Mundial, com seu estado estabelecido por convenção universal, os cidadãos israelenses e seu estado estão devolvendo à humanidade, uma simbólica e decisiva ação de gratidão? O que nos move a pensar que o mundo possa estar em um lado oposto ao da democracia, da liberdade e da ciência? Qual a finalidade de se criar factoides diversionistas para iludir as pessoas que a vítima é a culpada? Para onde caminha a humanidade?
איזה עולם מטורף זה – iza olam matoref ze!
*Radialista e editor do site www.pelotas13horas.com.br