ARTIGO – POESIA DO MARIOZINHO

867

Poesia do Mariozinho.

Por Clayton Rocha

Interessante: aconteceu isso na  quinta-feira, 16 de agosto de 2012. Fiquei quase duas horas no quarto do Mário Osório Magalhães na Santa Casa. Havia mais gente. Falei muito, recordei divertidas  passagens de nossas  vidas  e rimos uma barbaridade. O Eugênio Magalhães, a Fernanda Caringi e a Ana Maria Behrensdorf se deliciaram com o papo saudosista. Saí leve do Hospital, e feliz pelo que constatei: o Poeta também dera provas de descontração, rindo muito, e divertindo-se  com as histórias  teatralizadas que recuperavam passagens cômicas de uma turma “faca na bota” dos anos Setenta, a nossa turma.

Ao atravessar a Praça da Santa Casa, ao entardecer, admirando agora  a beleza da Caixa D’água restaurada, ouço a chamada do celular:  Era o José Luiz Marasco, eletrizado por uma poesia do Mariozinho. De tão bonita que é, disse-me, estou comovido ao reler o texto.  Combinamos, no ato, que ela iria para o alto da página deste Site, com a foto do nosso Poeta preferido, e todos os demais merecimentos. O Marasco  simplesmente não sabia de onde eu estava vindo. E eu não lhe disse nada quanto a isso. Apenas entendi o profundo  significado  daquela conversa,  naquilo que a vida é capaz de expressar em suas  entrelinhas.

 A poesia dizia  tudo!

Agradecia  pela  felicidade plena e generosa de nosso próprio passado distante. Estava impregnada das melhores  lembranças de uma juventude que havia sido  intensamente vivida. E oferecia  até mesmo  um título, por  ele próprio  escolhido. Pena que esse título esteja valendo hoje  como  um triste  sinal  de despedida.  (CR)    

UM RASTRO
(Mário Osório Magalhães)

Naqueles dias era bom viver

– mas era bom demais…

Não se sabia bem o que escolher

como se Deus

(se existe Deus)

nos entregasse as chances que nos prometeu

todas de uma vez só…

Jogava a tal felicidade

de enxurrada à nossa porta

e a gente nem sabia o que fazer com ela.

Provavelmente ela

por muitas noites pernoitou lá fora

e nem sequer abrimos a janela.

Quando a gente acordava, ela se intrometia

de tal maneira que não se sabia

que caminho escolher, pois eram todos bons…

Ela nos conduzia.

Deitávamos tarde, e nem se percebia

quando todas as manhãs ela voltava

batia o ponto e se estabelecia…

A gente enxotava a tal felicidade!

Hoje ela foi-se embora

e foi-se embora recolhendo tudo

(como a gente, àquele tempo, recolhia

as cadeiras, os copos, a rede da varanda).

Alguma coisa ela botou no lixo,

alguma coisa guardou…

Um belo dia ela se foi, levando

Um pedaço da minha vida e um pedaço da tua vida.

E só deixou um rastro

e só deixou um traço

e só deixou uma pegada pra gente persegui-la…

E foi por isso que a gente envelheceu.

Naqueles dias era bom viver,

e se viveu…

Provavelmente se viveu demais.