Papa Francisco e o legado de amor e inclusão
Eduardo Gil Carreira e Ângela Carreira*
Em um mundo que muitas vezes marginaliza as diferenças, o Papa Francisco ergueu-se como um profeta da compaixão, um defensor incansável dos invisíveis, e um Pai Espiritual para aqueles que o mundo insiste em ignorar. Suas palavras não foram apenas discursos, mas sementes de esperança plantadas no coração de famílias que lutam contra o isolamento, o estigma e a solidão.
Em um congresso sobre Autismo em 2014 no Vaticano, o Santo Padre não apenas falou — ele comoveu, inspirou e transformou. Com voz firme e coração aberto, clamou por esforços coletivos para romper as barreiras do preconceito que aprisionam tantos Autistas e suas famílias. “É necessário acolher, encontrar-se, solidarizar-se”, declarou, num chamado que ecoa como um grito sagrado por justiça e amor. Romper o isolamento e apagar a marca que pesa sobre eles — essa foi sua missão. Porque o Autismo, como ele mesmo destacou, não é apenas uma condição, mas uma chamada à humanidade: uma prova de que a verdadeira grandeza está na capacidade de abraçar o diferente, de enxergar a beleza única que Deus depositou em cada vida. Inspirado pelo exemplo de São Torlaco – padroeiro da Islândia, canonizado por João Paulo II em janeiro de 1984, e considerado padroeiro das pessoas com Autismo, o Papa Francisco fez da Igreja um santuário de inclusão. Ele não apenas citou nomes, mas agiu: promoveu redes de apoio, envolveu famílias, terapeutas, educadores e pastores, porque sabia que ninguém deve carregar sozinho o fardo do desamparo. Com lágrimas nos olhos e firmeza na voz, Francisco lembrou que a maior dor não é o diagnóstico, mas a solidão que o acompanha. Quantas mães e pais choram em silêncio, sufocados pelo medo da rejeição e quantas crianças são excluídas antes mesmo de terem a chance de mostrar seu valor. O Pontífice não apenas reconheceu essa angústia — ele a transformou em missão. “Superem a sensação de inadequação”, encorajou, porque ninguém está sozinho quando a comunidade se torna uma família. E, com a força de quem fala em nome de Cristo, abençoou os pesquisadores, para melhorar o suporte, mas, acima de tudo prover dignidade.
Em 2020, ao receber crianças com Autismo no Vaticano, oriundas do Centro para Autismo da Áustria, Francisco não as viu como pacientes, mas como anjos de luz — o “Sonnenschein” (Brilho do Sol) que ilumina a escuridão da indiferença. Seus olhos brilhavam ao dizer: “Leio em seus rostos a alegria de estarem aqui”. E, naquele momento, o mundo inteiro viu: o amor não precisa de palavras quando o coração fala. Em 2022, foi ainda mais longe: “Tornem-se protagonistas da mudança!”, exortou. Porque a verdadeira revolução não vem de decretos, mas de mentes e corações transformados. Ele sonhou com uma sociedade onde o Autista não é “incluído”, mas celebra sua identidade sem medo. Hoje, quando da partida deste gigante da misericórdia, seu legado permanece: uma Igreja que abraça, uma sociedade que acolhe, um mundo que enxerga a beleza na diversidade. Papa Francisco, o pai dos excluídos, ensinou-nos que o verdadeiro milagre não é curar, mas amar. E, enquanto houver uma criança Autista precisando de abraço, uma família buscando apoio, ou um coração sedento de compaixão — sua voz continuará ecoando, suave e poderosa como um evangelho vivo: “Nunca estão sozinhos. A Igreja está com vocês. Deus os ama assim como são.”
O Autismo precisa de respeito, oportunidades e, sobretudo, de vozes que defendam sua existência com honradez, conhecimento e dignidade. Que possamos, cada vez mais, substituir o desconhecido pelo entendimento, o preconceito pela aceitação e a indiferença pelo acolhimento e afeto, a informação gera empatia e a empatia gera respeito. Porque no espectro da vida, não somente em um período do ano, a conscientização deve ser constante, pois todas as cores merecem brilhar.
*Ângela Carreira Terapeuta e Mãe Atípica Pós-Graduanda em Educação Inclusiva com ênfase em Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades Instagram @prof_angelacar E-mail angelapmcaruso@gmail.com | *Eduardo Gil Carreira Advogado – OAB/RS 66.391 e Pai Atípico Pós-Graduando em Transtorno do Espectro Autista (TEA): Inclusão Escolar e Social Instagram @carreira.adv.inclusiva |