Clube Comercial de Pelotas e a memória da cidade em ruínas
Pedro E. Almeida da Silva*
O velho casarão do Clube Comercial de Pelotas é um marco da história da cidade. Em tempos de prosperidade econômica e cultural, a cidade encontrava no Clube Comercial a expressão da opulência e, certamente, das assimetrias socioeconômicas da cidade e região.
Nas últimas décadas do século XX, o Clube entrou em decadência. Além da estagnação financeira da região sul, outros fatores contribuíram para a fragilidade e degradação do prédio e da entidade social. A incapacidade de se adaptar ao mundo em transformação afastou novos sócios e sufocou iniciativas que poderiam revitalizar o Clube para atender às demandas culturais e de lazer contemporâneas.
O esvaziamento do quadro social, escassez de recursos e a deterioração da sede culminaram na inviabilidade da entidade social. O Clube Comercial, em sua essência, não existe mais e não ressurgirá. Todavia, o prédio, com seus documentos históricos e a coleção de arte que resistiram ao tempo, ao vandalismo e a pilhagem, persistem, ainda que sempre ameaçados por novos saques. De fato, prédio e acervos pertencem a memória da cidade e, portanto, ao povo pelotense e não aos poucos sócios que, como o próprio prédio do Clube, resistem ao tempo, mas não têm condições de salvá-lo ou preservar seu imóvel e acervo.
O casarão do Clube Comercial, localizado no centro histórico da cidade, está em ruínas, à mercê de um destino incerto e aparentemente pouco promissor. Esse cenário de abandono revela, além da derrocada da entidade social e suas insuficiências, uma omissão e inabilidade dos setores público e privado locais. O poder público, escondido nos biombos da burocracia e na falta de iniciativa de gestões míopes, exime-se de suas responsabilidades, enquanto o setor privado, sempre tão afeito a discursos desenvolvimentistas que destacam o poder resolutivo do capital empreendedor, demonstra notório e histórico desinteresse pela memória da cidade onde aufere seus lucros. Um exemplo paradigmático é a pífia participação do setor empresarial local, com uma arrecadação de menos de 1% dos R$ 2,4 milhões autorizados pela Lei Rouanet para a revitalização do prédio do Clube Comercial.
A preservação da memória histórica e cultural da cidade e região exige mais do que discursos inflamados, críticas oportunistas e promessas vazias. É fundamental buscar alternativas efetivas para resgatar o patrimônio, os documentos históricos e a coleção de arte. Proteger esse legado histórico é um dever coletivo, assegurando que ele não sucumba pelas múltiplas formas de erosão, sejam as oriundas do tempo ou dos interesses escusos.
*Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Bolsista de Produtividade do CNPq