Autismo e a ininterrupta conscientização
Eduardo Gil Carreira e Ângela Carreira*
O Autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição neurológica que se manifesta de maneira única em cada indivíduo, trazendo desafios e potenciais igualmente distintos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 100 crianças está no espectro, e os números crescem à medida que os critérios diagnósticos se aprimoram. No Brasil, estima-se que mais de 2 milhões de pessoas sejam autistas, muitas ainda sem diagnóstico ou suporte adequado. Essas estatísticas não são apenas números — representam vidas que precisam de visibilidade, compreensão e ações concretas.
A conscientização sobre o Autismo não pode se limitar a campanhas pontuais ou ao mês de abril, quando o tema ganha mais destaque. É preciso um esforço contínuo para desconstruir mitos, combater preconceitos e disseminar informações científicas. Muitas famílias atípicas ainda enfrentam o desconhecimento da sociedade, desde olhares de julgamento em locais públicos até a falta de políticas públicas eficientes. A jornada de pais e cuidadores é marcada por lutas diárias por direitos básicos, como saúde, educação e inclusão social. A inclusão — seja na escola, no trabalho ou nos espaços públicos — não é um favor, mas um direito garantido por lei que deve ser exercido. No ambiente escolar, por exemplo, a presença de um aluno autista enriquece a experiência de todos, ensinando lições valiosas sobre diversidade e empatia.
No entanto, para que a inclusão seja efetiva, é preciso adaptações sensíveis às necessidades individuais. Muitas crianças autistas enfrentam hipersensibilidades sensoriais — como intolerância a barulhos, luzes fortes ou texturas de alimentos — que, se ignoradas, podem gerar sofrimento e isolamento. A seletividade alimentar, muito comum no TEA, também exige compreensão, e não críticas ou pressões desnecessárias.
Comportamentos como ecolalia (repetição de palavras) e ecopraxia (repetição de movimentos) são parte da comunicação de muitas Pessoas com Autismo e devem ser respeitados como expressões legítimas, e não como problemas a serem corrigidos. Infelizmente, a falta de conhecimento leva a interpretações equivocadas, reforçando estigmas. É essencial que a sociedade aprenda a ouvir, observar e, acima de tudo, entender que a Pessoa com Autismo experiencia o mundo de forma diferente — e essa diferença não o torna menos capaz.
Os direitos das pessoas autistas estão amparados por leis, como a Berenice Piana (Lei 12.764/2012), que garante acesso a terapias, educação inclusiva e proteção contra discriminação. Porém, a aplicação dessas normas ainda esbarra em burocracia e despreparo. É urgente que governos, instituições e a população em geral assumam seu papel na construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva. No fim, tudo se resume a uma questão humana, a forma de enxergar o outro além das limitações e celebrar suas potencialidades. Inclusão não é sobre tolerar diferenças, mas sobre abraçá-las como parte fundamental da nossa coletividade. Quando uma criança com Autismo é acolhida na escola, quando um adulto no espectro consegue emprego, quando famílias são ouvidas e apoiadas, damos um passo rumo a um mundo mais justo.
O Autismo precisa de respeito, oportunidades e, sobretudo, de vozes que defendam sua existência com honradez, conhecimento e dignidade. Que possamos, cada vez mais, substituir o desconhecido pelo entendimento, o preconceito pela aceitação e a indiferença pelo acolhimento e afeto. Porque no espectro da vida, não somente em um período do ano, todas as cores merecem brilhar.
*Ângela Carreira – Terapeuta e Mãe Atípica
Pós-Graduanda em Educação Inclusiva com ênfase em Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades
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*Eduardo Gil Carreira – Advogado – OAB/RS 66.391 e Pai Atípico – Pós-Graduando em Transtorno do Espectro Autista (TEA): Inclusão Escolar e Social
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