DONA PETROLINA
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Clayton Rocha*
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Ela apareceu junto ao pé de um abacateiro, na frente da minha casa, durante uma madrugada de inverno: no dia 16 de agosto de 2009. Eu me perguntava naquela época: – Quem a trouxe até aqui? Ela apenas procurava um abrigo? Ou ela foi enviada por energias outras, vindas do mundo invisível, e por isso mesmo inexplicáveis? E Dona Petrolina – Em questão de poucos dias – ela que era até ali uma estranha no ninho, tomou conta de tudo e de todos.
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E Dona Petrolina ofereceu um amor incondicional durante três anos de intenso convívio! E deixou tantas marcas, mas tantas, que esse componente afetivo me impede, ainda hoje, de escrever – como eu gostaria – tudo o que eu ainda sinto por ela. Num dado momento, e tem sido sempre assim, sou vencido pela emoção, o que se repete agora desde aquele 23 de outubro de 2012, a data de uma despedida.
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Quem sabe, um dia? Quem sabe eu ainda venha a fazer isso, mas na alta idade!
16 de agosto de 2009 / 23 de outubro de 2012.
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16 DE AGOSTO DE 2024: 15 ANOS DEPOIS…
Minha vira-lata, quando apareceu aqui em casa, dormia na rua, embaixo de um abacateiro. Fugia de todo mundo e mais parecia uma cachorra desencantada com as pessoas. Tinha medo. Deve ter sofrido o suficiente para não confiar simplesmente em ninguém. Mas, com o passar do tempo, foi tomando conta de todo mundo.
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Numa homenagem ao petróleo brasileiro, e ao pré-sal, e aos pesados investimentos do Governo Lula no Polo Naval de Rio Grande, e na duplicação da BR-392, a vira-lata ganhou o nome de Petrolina! Hoje, ela já dorme dentro de casa, e gosta de ar-condicionado. Se, antes, corria como uma alucinada atrás do carro, hoje ela já passeia de carro. E, detalhe: no banco de trás, com jeitão de dondoca. Outro dia, fazendo as vezes de seu motorista particular, achei graça ao pensar: preciso comprar um boné!
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Ela tá ficando folgada demais! E tanto, que a vizinhança já arranjou um apelido para a Petrolina: Dona Petrô! ( a Júlia, a pequena e bela Júlia, a menininha que aprecia a vira-lata, filha da Márcia e do Capitão Rodrigo, resolveu colocar um lenço em seu pescoço! Pois Dona Petrô, a vira-lata folgada, já tá usando até lenço de pescoço!)
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Moral da história: um cachorro em casa, e especialmente sendo um vira-lata, nos oferece, a cada novo dia, o sinal de sua gratidão e…. de sua profunda amizade. ( Coisa rara de se encontrar, digamos, na espécie humana). Napoleão Bonaparte descobriu isso, certa feita, num campo de batalha. O soldado morto, da tropa inimiga, tinha o seu cão de estimação ao lado. E este uivava de dor, lambendo sem parar o seu dono, inerte! Aquilo levou Napoleão, um homem frio, acostumado à morte e ao sangue, às lágrimas. (Dmitri Merejkovsky conta essa passagem na melhor biografia que já se escreveu sobre o Imperador da França).
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*Jornalista, coordenador do Treze Horas há 46 anos.